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Turismo brasileiro entra em fase madura de crescimento e executivos projetam expectativas para 2026
Maior visibilidade internacional, impactos do câmbio e avanço das experiências devem direcionar o mercado no próximo ano
Em um cenário turístico marcado por uma recuperação sólida, avanços tecnológicos acelerados e um viajante cada vez mais informado e exigente, especialistas fazem uma leitura precisa sobre as transformações que estão redefinindo o setor.
Durante o webinar “Retrospectiva para o turismo em 2025 e expectativas para 2026” Alejandro Moreno, vice-presidente de turismo da ADIT Brasil e CEO Trul Hotéis, Gustavo Viescas, presidente da América Latina e Caribe na Wyndham Hotéis e Resorts, e Murilo Pascoal, CEO do Beach Park, analisaram o desempenho do mercado no último ano.
Para os executivos, 2025 representou uma virada definitiva para o setor, deixando para trás a lógica de retomada e alavancando um ciclo de expansão. Viescas destaca que o turismo ultrapassou as referências pré-pandemia e entrou em uma fase madura de crescimento.
“Foi um ano em que a gente deixou de falar de recuperação e começou a falar de crescimento. Já deixamos de comparar com a pandemia, temos números que estão acima de 2019 e é um comportamento que vai continuar assim”, pontua.
Outro ponto relevante foi o impacto direto do câmbio e da visibilidade internacional do Brasil no comportamento dos viajantes. Pascoal explica que o cenário econômico ajudou a impulsionar tanto o turismo doméstico quanto a chegada de estrangeiros.
“A gente acabou o ano passado com o dólar muito alto, o que atrapalha a viagem do brasileiro para o exterior. Isso segurou um pouco mais de gente no Brasil e ajudou o mercado brasileiro. Somado a isso, tivemos um número fantástico de 10 milhões de turistas internacionais e a impressão que eu tenho é que o Brasil está virando moda para o exterior, o que é muito bom”, enfatiza o CEO.
Visitantes estrangeiros e fim do Perse
Ainda na lógica do fortalecimento da imagem dos destinos brasileiros para os outros países, Viescas aponta que embora o mercado doméstico, historicamente, tenha sido o grande motor do setor, o cenário atual evidencia uma maior expectativa voltada à atração de visitantes estrangeiros.
“O Brasil sempre foi visto como um mercado forte, mas interno. E a oportunidade que o Brasil tem para receber pessoas de todo o mundo é enorme. Tem Rio de Janeiro e São Paulo, cidades que são conhecidas no mundo inteiro, mas tem muito mais que isso, no Sul, no Nordeste, tem muito mais Brasil”, ressalta Viescas.
Por outro lado, ainda houve um impacto das políticas públicas no desempenho do setor, especialmente no ambiente tributário e nos incentivos governamentais. Segundo Pascoal, uma das mudanças mais sentidas pelo mercado foi o encerramento do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), criado em 2021, para apoiar empresas de eventos e turismo afetadas pela pandemia de COVID-19.

“O Perse foi tão importante para o turismo de uma forma geral e acabou no meio do ano de uma forma que a gente não esperava, então foi um dos grandes marcos.”
Murilo Pascoal
Aluguel de curta temporada, hotéis boutique e experiência
O comportamento das novas gerações, que vêm redefinindo a lógica de consumo no turismo e na hotelaria, continua como uma tendência. Com valores mais voltados ao significado, ao bem-estar e à vivência, esses públicos têm impulsionado uma mudança profunda na forma como os empreendimentos se posicionam e entregam valor.

“As novas gerações preferem investir em experiências do que investir em bens, o que é muito legal para nossa indústria, principalmente a indústria hoteleira e de lazer.”
Gustavo Viescas
Esse comportamento desempenha papel central na dinâmica do mercado. Especialmente no mercado interno, mesmo diante de oscilações econômicas e variações cambiais, o desejo de viajar permanece forte e consistente, refletindo a mudança cultural consolidada ao longo dos últimos anos.
“O brasileiro gosta do lazer, ele começou a viajar muito nas últimas duas décadas, descobriu a viagem, é curioso e não vai parar de viajar. Ele pode até parcelar em mais vezes, mas parar de viajar não vai”, argumenta Moreno

“O Brasil tem muitos projetos em construção e sendo lançados, muitos hotéis boutique de luxo, porque o mercado brasileiro paga bem pelo luxo.”
Alejandro Moreno
Além disso, a discussão sobre a relação entre hotelaria tradicional e plataformas de aluguel por temporada também foi latente ao longo do ano e deve continuar. Refletindo a transformação digital que vem redesenhando a dinâmica do mercado, Moreno acredita que essas plataformas não representam uma ameaça direta para os hotéis, mas sim um novo estímulo competitivo dentro de um setor em franca expansão.
“No ADIT Share desse ano, David Fuentes compartilhou um dado de que as plataformas de aluguel por temporada e a hotelaria têm quase o mesmo número de apartamentos, o que não significa que a hotelaria tenha tido um mau ano, porque tem negócio para todo mundo”, conta.
O vice-presidente da ADIT Brasil reforçou que o desafio não está na coexistência entre os modelos, mas que a falta de regulamentações claras ainda gera ruídos e que a evolução de normativas e leis nesse aspecto deve impulsionar melhorias no setor como um todo.
“A questão é como você utiliza a ferramenta e como você faz com que ela funcione. Evidentemente tem algumas coisas que atrapalham, como a falta de algumas regras, mas o crescimento dessas plataformas vai forçando que a regulamentação do setor seja melhorada a cada dia”, defende Moreno.
Para quem atua no setor, o momento é de atenção às transformações e preparo para aproveitar um cenário cada vez mais promissor. Sendo assim, 2026 se desenha como um ano de oportunidades, marcado por inovação, fortalecimento da hotelaria e maior integração entre tecnologia, sustentabilidade e experiência.
Para conferir mais sobre a análise dos executivos assista ao webinar na íntegra:
- Por Maíra Sobral – Coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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