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Tudo o que você precisa saber sobre Smart Cities no Brasil
Uma cidade inteligente abraça serviços públicos eficazes, inclusão social e soluções não-burocráticas para gerar qualidade de vida. Na ideia de Smart City, Meio Ambiente e sustentabilidade tornam a vida nos grandes centros mais fácil – a tecnologia digital é peça-chave nessa transformação a nível mundial e algumas mudanças em projetos de desenvolvimento urbano já são reais. A chamada economia criativa, circular e colaborativa, por exemplo, é fundamental para que tudo isso aconteça já que está interligada a Nova Sociedade – essa que não se vincula mais à ideia de posse, mas preza pela experiência.
“Nesse cenário, as pessoas se importam mais pela qualidade dos serviços e não estão preocupadas em simplesmente ter. Enxergar e entender esse ecossistema facilita para enquadrar novas estratégias de desenvolvimento”, explica a líder do Núcleo de Smart Cities e Infraestrutura Sustentável do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), Myriam Tschiptschin. E basta olhar ao redor para entender a prática dessa teoria. “Ações de sucesso já contemplam esses aspectos. Temos os aplicativos Uber e Airbnb, e até o Colab, que é brasileiro, e todos são serviços urbanos de Smart Cities que incluem a economia colaborativa. Eles funcionam através de participação das pessoas em sistemas de rede, não mais centralizados”, diz. São, no fim das contas, ideias circulares que possuem o propósito de minimizar os impactos ambientais.
Essa revolução de dados e informações tem nome: Internet das Coisas (IoT). Máquinas, dispositivos e sensores trabalhando na coleta e interpretação de informações promete mudar o cotidiano das pessoas ao conectar objetos comuns e rotineiros. Eduardo Filipe, Sócio-diretor da iCities Partner e representante oficial da Fira Barcelona no Brasil e co-organizador do Smart City Expo Curitiba, destaca a importância desse movimento. “A coleta e tratamento de dados é de extrema importância para que os gestores possam tomar melhores decisões, como, por exemplo, dados de trânsito, segurança pública, poluição, consumo de energia, água, gás, entre outros”. Segundo ele, até o setor de construção civil, que é um dos menos digitais à frente apenas da agricultura, se vê obrigado a aderir ao movimento. Oportunidades não faltam.
“Existem diversas iniciativas de inovação e geração de novos modelos de negócios. No Brasil, estamos percebendo um aumento significativo no número de Construtechs, que são startups focadas no segmento de construção. O setor tem um histórico de baixa produtividade e essas startups estão focando em gestão, processos e métodos construtivos”, diz.
Ele defende que essa conexão entre a construção e os projetos de smart cities devem ser pensados de forma mais holística. “É preciso entender as conexões que as edificações têm com a cidade, seus impactos e oportunidades. Ainda vemos poucas startups olhando para isso.” Como imaginar uma realidade tão avançada em todos esses aspectos, quando muitas localidades não possuem sequer saneamento básico e energia elétrica? Filipe explica. “Para se atingir um nível satisfatório de conectividade, precisamos resolver antes a infraestrutura básica, que é de fato pavimentação, acesso à energia, acessibilidade, entre outros. Por isso, no Brasil, existe a necessidade de investimento em infraestrutura antes de mais nada.”
ALÉM DE DADOS ABERTOS NAS SMART CITIES: INTERNET DAS COISAS, BIG DATA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
O ciclo Internet das Coisas, Big Data e Inteligência Artificial pode ser o responsável por essas melhorias citadas acima. Na verdade, ele é essencial e precisa existir. É o que defende Myriam, que é Especialista em Novas Tecnologias Aplicadas à Arquitetura. A partir do momento em que tudo na cidade está, de alguma forma, passando informação e acumulando dados há um Big Data – e ele precisa ser estudado e usado para dar início a estratégias smart cities. “Cidades são inteligentes a partir do momento que se analisa dados, cria-se algoritmos para a inteligência artificial trabalhar e todo esse processo se automatiza, melhorando a cada nova chegada de dados”, explica. Esses resultados são usados para inovar em políticas públicas e melhorar a gestão da cidade em todos os aspectos. “Não só na qualidade dos serviços prestados, mas na saúde, na qualidade de vida e também na eficiência ao reduzir custos operacionais.”
Um exemplo de utilização apropriada do Big Data é o DataStore, de Londres. Trata-se de uma portal público onde qualquer pessoa, seja ela cidadã, desenvolvedora, empresária ou pesquisadora, pode acessar dados sobre a gestão pública em tempo real. “É um site onde a prefeitura disponibiliza por setor e em gráficos todos os dados de Educação, Saúde, Áreas Verdes, enfim, tudo, de forma transparente e automática. Todos sabem o que está acontecendo e podem reivindicar melhorias”, conta Myriam.
SMART CITIES VÃO MUITO ALÉM DE TECNOLOGIA DIGITAL
Tecnologia digital não é solução para tudo – elas também se relacionam com novos modelos de gestão, projetos de impacto socioambiental, fomento à nova economia e novos conceitos de urbanismo. Myriam explica que cidades inteligentes são aquelas que envolvem o desenvolvimento urbano sustentável independentemente das tecnologias digitais fazerem parte disso ou não. Ela cita como exemplo o problema de escoamento superficial da chuva e sua drenagem nos centros urbanos – a solução que ela dá não está ligada a tecnologia. Há uma impermeabilização do solo que cresce em formato excessivo juntamente às cidades e ela pode ser resolvida de um jeito simples.
“A retirada de todas as áreas verdes e a reversão dos processos naturais hidrológicos é uma grande questão. Hoje a gente leva a água da chuva com o máximo de velocidade possível para longe do local em que ela cai e com isso, mudamos o curso natural. Se eu pudesse aplicar alguma estratégia de Smart Cities nas cidades brasileiras, seria essa: criar um sistema de áreas verdes com função drenante”, reforça. O primeiro passo seria traçar um plano de drenagem sustentável, trazendo de novo as áreas vegetadas para as cidades. “Falo de uma distribuição homogênea com capacidade filtrante e de infiltração para recarga de lençol freático através do sistema viário principalmente.”
Vale conferir, também, o artigo “Novas tecnologias para comunidades planejadas”, onde Rony Stefano aborda o conceito de Techospitality –
a integração de Internet das Coisas com softwares e serviços.
SMART CITIES NO BRASIL
O Grupo Planet, formado por empresas inglesas e italianas, escolheu uma região do interior do Ceará para construir a primeira cidade inteligente inclusiva do mundo: a Smart City Laguna, no distrito de Croatá, em São Gonçalo do Amarante (CE). O empreendimento é, segundo Susanna Marchionni, diretora da Planet, prova de que o Brasil está no mesmo timing e patamar da América do Sul. “Em relação à Europa, estamos atrasados. O grande diferencial daqui é que é o primeiro do mundo a construir uma smart city inclusiva”.
E porquê direcionar os esforços para classes mais baixas? “O déficit habitacional mundial é gigante. O Brasil tem um déficit de 7 milhões de habitações e a maioria dessas famílias são das classes B e C, mas todos esquecem desse público”, conta. Para ela, a maior dificuldade existente quanto a implantação desse conceito está na descredibilidade da ideia perante os investidores. “As pessoas acham que não está ao seu alcance, mas está.” O Laguna pretende oferecer cursos de inglês, biblioteca e cinema gratuitos à população. O investimento total é de R$ 50 milhões.
Com 480 mil metros quadrados de área verde, a construção tem uma área total de 330 metros e pretende abrigar 25 mil pessoas. Em paralelo, a Planet também desenvolve a Smart City Natal, no Rio Grande do Norte – que deve ter mais de 15 mil habitantes. Em ambas as propostas, as pessoas aparecem como “centro” dos projetos. “Temos um catálogo com mais de 50 soluções inteligentes. Na Itália, o nosso Centro de Competência analisa e seleciona as ideias e os produtos mais inteligentes existentes no mundo e os integra em nossos projetos”, conta Susanna. Essas soluções estão divididas em quatro pilares: Pessoas, Sistemas Tecnológicos, Planejamento e arquitetura, e Meio Ambiente.
“Em Pessoas, temos cinema gratuito e biblioteca de objetos. Em Sistemas Tecnológicos, temos aplicativo de bairro e wi-fi grátis nas áreas públicas. No Planejamento e Arquitetura oferecemos rede elétrica subterrânea e mix funcional. Quanto ao Meio Ambiente, pensamos em iluminação pública inteligente e pavimentação drenante”, explica a diretora.
Na Europa, a Planet está desenvolvendo o REDO, o primeiro bairro inteligente inclusivo da Itália. No ano passado, revitalizou e transformou em inteligente o bairro Quartiere Giardino, em Milão, que conta com 1.600 apartamentos.
COMPLAN 19
Confirmados na 9a edição do evento, que acontece entre os dias 17 e 19 de outubro, Eduardo Filipe (iCities), Myriam Tschiptschin (CTE) e Susanna Marchionni (Planet) pretendem discutir as particularidades das Smart Cities a partir de suas experiências pessoais.
“Já palestrei anteriormente no Complan, bem no início do projeto da Smart City Laguna, e agora em Goiânia irei mostrar a evolução da cidade inteligente e como ela está sendo desenvolvida, além do nosso último lançamento em Natal”, adianta Susanna. Eduardo participa do seminário pela primeira vez. “Minha proposta é falar em como o conceito de cidades inteligentes pode ser aplicado a novos projetos de desenvolvimento urbano, e como isso traz impacto no VGV, no marketing e na qualidade de vida dos empreendimentos.”
As transformações tecnológicas serão pauta de Myriam. “Os projetos de desenvolvimento urbano demoram para acontecer. Desde a fase de concepção, projeto, construção e mesmo a ocupação demora muito. Sempre foi um desafio para o urbanista isso, e agora a tecnologia digital evolui muito mais rápido. Como fazer as cidades aptas para receber isso ao longo do processo? No Complan, vou propor algumas ideias relacionadas a isso para mitigar o problema.”
As inscrições para o maior Seminário sobre Comunidades Planejadas, Loteamentos e Desenvolvimento Urbano do Brasil estão abertas e as vagas são limitadas. Mais informações sobre o COMPLAN
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