Perfil
Perfil #5 – Silvio Bezerra
Silvio Bezerra é um dos principais nomes da construção civil no Rio Grande do Norte. Diretor-presidente da Ecocil, tem um histórico de atuação em algumas outras instituições do Estado. Além de ser o atual presidente do SINDUSCON-RN, já presidiu o mesmo por outros dois mandatos anteriormente, é vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiern), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit Brasil). Também presidiu o Conselho Deliberativo do Sebrae/RN (2010-2014).
Engenheiro Civil formado pela UFRN, com pós-graduação em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, Bezerra se formou em 1993, época em que, segundo ele, já existia uma grande crise econômica no país. “Não tão grande e grave como a que enfrentamos hoje, mas a falta de financiamento imobiliário à época era enorme”, lembra Bezerra. Foi nesse cenário que ele conheceu o hoje amigo pessoal José Paim, da MaxCAP, na época superintendente da Rossi, que havia desenvolvido um sistema revolucionário de vendas que impactou profundamente o mercado imobiliário do país. O Plano 100.
“Eu tinha apenas 25 anos quando conheci o Paim. Marquei presença em um seminário que só tinha figurões do mercado, e, mesmo desconfortável com tudo, consegui conversar com ele e sua assessora. A ideia era convencer a todos de que uma franquia do Plano 100 em Natal seria sucesso absoluto”, relembra. As condições eram simples: caso o produto não desse certo, a ideia de expandir por todo o brasil seria abortada. “Foi o que ele me disse no começo de tudo, e a verdade é que lançamos um empreendimento em 4 de agosto de 1994, conseguindo vender 336 unidades em menos de 24h. Lembro que subimos a tabela de preços durante o coquetel de abertura várias vezes e mesmo assim vendemos 9 torres de apartamentos. Três meses depois inauguramos outro empreendimento e repetimos o sucesso, com 264 unidades esgotadas. Fomos manchete dos principais jornais do Brasil, Paim como franqueador, e nós como franqueados.”
Assim nasceu o Plano 100 em Natal, sucesso da Ecocil, capitaneada por Silvio Bezerra e seus irmãos. “Minha história no ramo imobiliário começou dessa forma. Em seguida eu lembro de engatilhar uns 15 edifícios de luxo em locais distintos de Natal, esses voltados para o público A e B, todos com resultados impressionantes, frutos da repercussão do sucesso da Ecocil com o Plano 100. A empresa cresceu e depois de mais de 70 anos hoje somos reconhecidos pelo nosso histórico, recall, credibilidade e reputação.”
Em 2006, Silvio Bezerra conheceu Felipe Cavalcante que o convidou para fundar a Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil. A ADIT Brasil.
Qual foi o maior desafio que você enfrentou/enfrenta atuando na Ecocil? Atender as demandas de mercado – que são disputadissimas. O maior desafio foi transformar uma empresa familiar em uma profissional: com governança corporativa, parceiros estrangeiros e credibilidade. Este último ponto muito importante para ser sócio de alguns fundos de investimentos e, por tantos anos, cultivar a confiança necessária para acreditarem em você como gestor.
Tem filhos? Tenho três filhos e três enteados. Minha esposa me deu essa alegria. Estamos casados há 15 anos. Tenho gêmeas idênticas de 17 anos. Lindas! Ao todo são seis filhos em casa, todos me dão alegria e muito me orgulham. São mais dois meninos de 19, um garoto de 20 e outro de 23. É uma escadinha!
Qual o seu Hobby? Sou apaixonado por tecnologia. Um dos meus hobbies favoritos é fazer fotografia com voos de drone e tenho até um canal no youtube chamado SilvioBezerraEcocil, onde é possível vocês verem algumas dessas produções hollywoodianas. Também adoro praticar esporte. Jogo tênis e futebol de campo. Uma curiosidade sobre isso é que chego no campo às 5h da manhã, quando ainda está tudo escuro. Com chuva ou sem chuva estou lá. São 30 malucos comigo nessa. Também adoro ouvir música e ser DJ para minha galera de casa. Tenho diversas playlists no Spotify.
Restaurante favorito? Gosto muito de comer no Gennari, do meu amigo Paolo, lugar simples, mas de comida italiana verdadeira.
Culinária favorita? Além da cozinha italiana adoro Frutos do mar. Adoro o Camarões, restaurante local que sempre marco presença.
Prato que traz boas memórias? Eu sou muito fácil de agradar. Todos os pratos que são degustados ao lado de boas companhias, sempre tendem a ser pratos inesquecíveis. A Toca da Coruja, lá em Pipa, é um exemplo de pousada onde você curte a natureza e desfruta de uma excelente cozinha e carta de vinhos muito boa. Fica a dica!
Um filme que marcou sua vida? E por qual motivo? Gosto do cinema italiano. Existem dois filmes que marcaram muito a minha adolescência, sempre me emociono quando lembro: Cinema Paradiso e O Carteiro e o Poeta. São lindos, o tipo de filme que vale à pena ter em DVD para assistir a hora que quiser – e são histórias que passam de geração para geração. Além desses, gosto de O Poderoso Chefão, a trilogia, são produções que ensinam muito sobre fidelidade, honestidade e família. Detalhes que gosto de reforçar e que se aplicam à minha atuação profissional. Por trás do concreto que construímos e vendemos vão viver famílias e elas precisam de conforto, segurança e amor. A responsabilidade de quem é contratado para realizar o sonho da casa própria de uma pessoa, que às vezes passou a vida poupando para conseguir isso, é muito grande. Temos a perfeita noção de quão grandioso e importante é isso. Trabalhamos para isso.
Livro inesquecível – e maior lição aprendida durante a leitura? Eu preciso falar de O Velho e o Mar. Meu pai me deu de presente e fez uma dedicatória muito bonita nesse livro. Sou apaixonado pelo mar. A pescaria em alto mar é indescritível. Costumo fazer isso com alguns amigos. É um hábito muito gostoso, adentrar o mar até não ver terra em nenhum dos lados e levar para casa um peixe de 30 kg. Uma cavala, um ATUM, um pargo, um dourado… É tudo uma aventura fantástica. Sempre encontramos golfinhos, tartarugas gigantes e manchas de sardinhas enormes no trajeto. É terapêutico. O mar me desestressa. Passo 6 horas em alto mar e penso que passou 5 minutos. Tenho a alegria de ter meus pais e minha família me esperando na praia sempre que volto dessas viagens. É sobre isso também, sabe? Uma história bonita que conversa muito comigo.
Eu sofro de mal de Parkinson desde meus 38 anos de idade. Descobri em 2005 e por essa razão tenho braços trêmulos. Isso não me intimidou ou me fez menor. Não deixei de fazer meus passeios no mar aberto, por exemplo. Nunca me queixei de ter sido premiado com esse Parkinson de Diversões, como costumo dizer. Nunca lamentei, nunca pensei em desistir e pelo contrário, sempre preferi que isso tenha acontecido comigo do que com algum dos meus três irmãos. Não faço disso motivo de pena, e levo tudo na valsa. A dedicatória do meu pai, que fala em determinação, é um lembrete valioso sobre quem eu sou. O Parkinson, por ser uma doença degenerativa, me ensinou a ser feliz hoje. Não tenho tempo a perder com lamentações ou reclamações. Vivo minha vida intensamente. O amanhã eu entrego a deus.
Banda/cantor(a) favorito(a)? Sou eclético demais. Vou do Chitãozinho e Xororó à música clássica de Mozart. Escuto forró, brega e rock nacional e internacional. Adoro Coldplay, U2, Simply Red, bandas dos anos 1980 que marcaram minha juventude. Gosto muito do forró do Flávio José e Jorge de Altinho – para mim, as canções desses dois são verdadeiras poesias nordestinas.
Série preferida? Os Vikings ou Peaky Blinders – séries violentas, mas muito interessantes.
Rede social favorita? Não sou muito de rede social, apesar de estar em todas. Mas direi o Instagram, onde tenho uma conta mais pessoal para as fotos de família e outra onde publico minhas pretensas obras-primas (@silviobezerrapics). Lá você encontra fotos de viagens e paisagens que meus olhos e lentes capturaram.
Destino favorito no Brasil? Praias da Pipa e Jacumã – uma para o norte e outra para o sul de Natal. As praias do Nordeste são maravilhosas.
Destino favorito no mundo? Meus sócios são ingleses e não posso ser infiel. Adoro Londres. Todo mês de setembro vou a Londres para a reunião do Conselho da nossa empresa. Este ano tudo está acontecendo via videoconferência, por questões de saúde e segurança em meio à pandemia, mas estamos dando conta.
Maior conquista profissional? O Prêmio Master Imobiliário de 2012, quando ganhamos com uma campanha que fizemos em parceria com o clube de futebol ABC. Compramos um terreno ao lado do estádio e lançamos o convite “Venha morar ao lado do mais querido” – que é como o ABC é conhecido pelos torcedores. Vendemos 176 apartamentos na noite do lançamento, numa noite de jogo do ABC contra o Vitória da Bahia – e o ABC venceu, logicamente.
Algo que te orgulha? Me orgulha ter conseguido suceder meu pai na direção da empresa. Às vezes as pessoas acham que é fácil herdar algo e dar continuidade. Meu pai começou do zero e construiu uma reputação e credibilidade além de um patrimônio interessante. É responsabilidade minha e dos meus irmãos manter isso e até, se possível, aumentá-lo. Temos noção da responsabilidade de tocar os negócios da família da mesma forma que ele sempre fez. Não me refiro apenas a patrimônio, mas manter uma empresa de 70 anos de existência em pleno funcionamento nos dias de hoje não é fácil. Empresas têm ciclos de vida e o desafio é fazer tudo se renovar a cada um deles. Eu sou da terceira geração da empresa e meu objetivo sempre será quebrar paradigmas, inovar para se manter na liderança de mercado.
Personalidade que admira do setor em que você atua? Sou grato pela amizade e admiro a capacidade profissional de José Paim, que me ensinou muita coisa lá atrás, desde o Plano 100. Ele hoje, no auge dos 60 anos, parece um menino de 30 anos, com seu astral e energia únicos. O homenageio como um cara do mundo dos negócios, do ramo em que atuo, que admiro bastante. Ele é fantástico e tem muito a ensinar ainda. Abraço para ele, inclusive.
O que ninguém imagina sobre você? Não faço a mínima ideia. Sou um cara muito aberto. Todo mundo sabe que adoro pescar, que amo minha família, que tenho Parkinson, e que sou feliz e amo minha família e amigos. Não sei responder essa.
Habilidade que deseja desenvolver no futuro? Quero continuar tendo espírito para conhecer e aprender constantemente coisas novas. Tento ser um bom usuário de tecnologia. Sou do tempo do Atari e às vezes me frustra não conseguir jogar os jogos modernos que meus filhos brincam. Fico meio agoniado. Tenho feito esforços para não envelhecer intelectualmente, o conflito de gerações existe. Tenho virado amigo dos amigos dos meus filhos. É até um desafio pessoal mesmo. Seguir na ativa e fazendo novas conexões.
Qualidade pessoal que se orgulha? Sou capaz de construir novas amizades e de ser fiel às antigas. Sou um cara fácil e me entroso muito bem com todo mundo. Procuro amizades inteligentes, honestas e de bom senso. Pessoas que compartilhem ideias que nos ajudem a evoluir em todos os sentidos, espiritualmente, intelectualmente, profissionalmente, etc…
Uma frase que te inspira? Meu pai me ensinou que para vencer na vida é preciso fazer três coisas: acordar cedo, andar ligeiro e falar pouco. Ele aprendeu isso com meu avô nos anos 50 estive pensando se ainda estava valendo hoje em dia. Cheguei à conclusão de que sim: Acordar cedo é estar ligado nas mudanças do mundo moderno. Tudo muda muito rápido. É preciso estar atento. Andar ligeiro é fazer as mudanças aconteceram nos seus negócios e na sua vida pessoal. Adaptar-se às novas realidades para evitar as dificuldades. E falar pouco é ser objetivo, porque ninguém aguenta mais o volume de informações as quais temos acesso hoje em dia. Não há tempo para perder com bobagem. São três recomendações bem válidas.
O que você mais gosta na visão e estrutura funcional do Sinduscon-RN? Quando eu presidi o Sinduscon pela primeira vez, o sindicato estava pequeno e restrito a poucas empresas. Eu consegui convencer amigos associados e não associados que trabalhar pelo coletivo era muito importante para cada uma das empresas. Juntos somos mais fortes que individualmente. A coletividade importa. Quando entrei no Sinduscon a imagem do setor na sociedade não era muito boa. Meu maior desafio foi mudar a imagem que a sociedade tinha do setor, defender a sustentabilidade dos projetos imobiliários buscando o equilíbrio do tripé ambiental, social e financeiro. Tenho orgulho de ser construtor e ser sério. Há pessoas honestas e desonestas em todos os setores. Não é justo classificar toda uma categoria como desonesta, ou até mesmo depredadora de meio ambiente. É preciso saber separar os bons dos maus empresarios assim como em qualquer outra atividade. Hoje o Sinduscon tem respeito por tudo que tem feito nos últimos 20 anos.
Qual conselho você daria para sua versão mais jovem? Inove sempre. Faz alguns anos que eu não consigo ter sossego, tentando descobrir como vai ser o mercado amanhã, como as formas de vender vão se reinventar, qual tecnologia de construção será a mais viável. Inovação é tudo. Pensar fora da caixa é estar sempre antenado para sobreviver – e como empresa líder de mercado precisamos encontrar formas de se destacar.
Algum projeto novo a caminho? Nós da Ecocil estamos desenvolvendo um bairro sustentável. É um projeto que vem sendo desenhado há mais de 10 anos. Estivemos em Copenhagem, conhecemos o arquiteto urbanista, Jan Ghel, o papa do novo urbanismo no mundo. O contratamos. Ele desenhou um masterplan com 5 mil unidades. É um projeto de uso misto residencial, comercial e de serviços verticais e horizontais e quem for morar lá fará o uso sustentável dos recursos naturais, tais como: energias renováveis, reuso de agua, coleta seletiva dentre outras coisas. Será um bairro voltado para as pessoas conviverem em harmonia. Pretendemos lançar as primeiras etapas do empreendimento em 2021. O Harmonia é o grande desafio da nossa empresa para os próximos 10 anos.
Hoje também fazemos parte de um seleto grupo de empresas que estão desenvolvendo Comunidades Planejadas deste tipo, liderado pelo Felipe Cavalcante, o chamado Master Mind. São de 10 a 12 empresas de diferentes estados que se juntaram para discutir melhores práticas e desenvolver tecnologias para o setor. Temos várias novidades. É, sem dúvidas, parte dos desafios da empresa para as próximas gerações. Temos o desejo de replicar a forma de sucesso de captação de recurso estrangeiro ou de fundo de investimentos imobiliários que a Ecocil criou para desenvolver empresas regionais. Replicar nossa experiência em outros lugares.
Uma reflexão própria que tem guiado sua vida? Pode ser um conselho, uma frase de efeito, algo que você mesmo criou e adotou como lema de vida. Na vida a gente precisa ter bom senso em tudo o que faz. O mundo real, o olho no olho, o fio do bigode, segue sendo inestimável, mesmo na era das redes sociais. Shaking hands é fundamental para mim. Aprendi muito cedo com o meu pai que mais vale a palavra que um papel assinado. Contratos podem ser falhos, mas o bom senso, e o compromisso de fazer a coisa certa, nos faz sempre tomar decisões corretas.