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O que já é real no uso de IA no mercado imobiliário? Confira os highlights do webinar da ADIT!
Otimizar o desenvolvimento de projetos e focar a ação humana nas decisões estratégicas foram pontos comuns defendidos durante o webinar “O que já é real no uso de Inteligência Artificial no mercado imobiliário?”, realizado pela ADIT Brasil, na última terça-feira (10). Os participantes falaram sobre o uso da inteligência artificial na análise de dados, automatização de projetos, construção de bairros planejados, crescimento do valor geral de vendas (VGV), impactos financeiros e urbanísticos.
Carlos Marchi, partner da Allower Urban Data Science, trabalha há 10 anos com IA e há mais de 15 anos no mercado imobiliário. Para ele, a inteligência artificial vai além dos processos de design paramétrico e acontece quando começa a se transformar em um instrumento capaz de, sozinha, desenvolver projetos. Perguntado por Júlio Kipper, sócio–proprietário da Vokkan Urbanismo e moderador deste webinar, o que seria a inteligência artificial, respondeu:
“Descobri que a gente chama de inteligência artificial, mas na verdade não é”, expõe. Citando um capítulo do livro Machine Learning, de Phil Berstein, que possui um capítulo inteiro criado por um algoritmo, ele completa: “Isso ilustra muito o que é a inteligência artificial, no meu ponto de vista, que é exatamente quando você não consegue mais distinguir o que foi feito pela máquina e o que foi feito pelo humano. O computador acaba reproduzindo nossa capacidade de pensar e passa a produzir conhecimento”, conclui.
O aprendizado da máquina para que isso seja possível começa da base: ensina-se o que é um loteamento, uma rua e quais os parâmetros que devem ser seguidos. Com base nisso, passa a ser possível que ela projete um loteamento sem que seja necessário que a mão humana crie cada um das vias e traçados.
A análise de Luiz Antônio Camargo, CEO da UrbIA (Inteligência Artificial para Planejamento Urbano), do Grupo Sólido, é que, com o desenvolvimento dessa tecnologia, o trabalho humano possa ser menos utilizado no início de projetos da criação de loteamentos. Dessa forma, é possível focar em questões estratégicas através dos dados que serão mostrados pelo sistema, capaz de demonstrar além dos impactos urbanísticos, também os impactos financeiros.
O arquiteto também apresentou que passou-se a utilizar mapas de calor como forma de identificar visualmente, enquanto se projeta, o que será promissor dentro daquele ambiente.
“A gente pode fazer um projeto Taylor Made com uma base analítica muito forte que a UrbIA está gerando, e isso nos ajuda na tomada de decisões. ‘Como é que eu gero mais zonas quentes nesse loteamento?’ Mais ou menos dentro desse conceito, criamos valorização imobiliária, tanto financeira quanto liquidez, ou melhoria daquele projeto, utilizando a UrbIA como uma assistente. A ideia é que ela, sim, possa ser uma inteligência artificial autogeradora e faça bastante coisa sozinha. Mas hoje a gente já tem uma ideia, dentro do Grupo Sólido e da UrbIA, que ela é muito mais importante como uma assistente analítica de informações para que a gente possa tomar as melhores decisões de projeto”, defende Luiz Antônio.
Para ele, o uso dessa tecnologia possibilita que arquitetos e urbanistas no início de suas carreiras possam apresentar projetos com dados que só um profissional sênior seria capaz, após anos de aprendizado, técnicas e experiências.
Em consonância com o CEO da UrbIA, Flávia Blanco, COO da Place (Plataforma de Desenvolvimento Urbanístico e Imobiliário), do Grupo OSPA, expõe que é possível parametrizar os projetos até o limite, e aí entra a arquitetura (referindo-se a ação humana). Escolhe-se o parâmetro e usa a tecnologia a favor da otimização de tempo. No entanto, ela também destaca as dificuldades encontradas.
“A automatização dos projetos de arquitetura também é capaz de gerar um aumento do VGV [Valor Geral de Vendas]. Escolhe-se o parâmetro e usa-se a tecnologia para ter tempo de fazer o que realmente importa. Ainda falta muito a ser feito. Às vezes a gente apanha pra ter uma base de dados, sem falar no interior, onde não vai ter nem zoneamento. Para que tudo isso seja possível a gente precisa de uma base de dados fidedigna”, destaca Blanco.
Uma visão do futuro
A perspectiva de Carlos Machi é de que o Brasil esteja com dois anos de atraso em relação aos países da Europa. Isso porque o uso de big data e design paramétrico seria uma etapa de inteligência digital algorítmica, enquanto os europeus estariam “engatinhando” em uma inteligência sintética.
“A gente vai parar de olhar para essas coisas como uma ferramenta e começar a olhar como um instrumento, onde cada cliente poderá usar a tecnologia de um jeito. Na prática, a questão que levantamos é: Como é que você usa IA em si para fazer previsões futuras para o desenvolvimento urbano. Como é que as cidades vão crescer, na prática? O que está acontecendo com o desenvolvimento urbano, como é que ele [o espaço] está sendo ocupado?”, expõe Machi.
Com isso, seria possível mapear a expansão e transformação urbana das cidades, quais as tendências. Falando do Brasil, essas previsões podem ser mapeadas para um período de até 10 anos, com uma eficiência de 75%. Na Holanda, por exemplo, é possível “enxergar” até 2030.
Machi defende ainda que é preciso quebrar as amarras e o efeito reativo que o mercado brasileiro possui, trabalhando fora do que o mercado tem feito. Além disso, a união dos setores público, privado e acadêmico seria um grande diferencial.
Nessa visão, Luiz Antônio destaca que o crescimento das áreas urbanas no Brasil ainda se dá pelo interior dos estados, mas que acredita, sim, que cada vez mais é necessário que haja uma análise territorial. Para ele, as dificuldades vêm da falta de dados e da legislação.
“Urbanisticamente falando, eu vejo que hoje a IA está muito próxima de conseguir analisar as informações de maneira muito rápida, gerar estruturas que possam ser ocupadas, e isso a gente se baseando em informações de mercado, que ainda não tem, ainda é muito manual. Sofremos bastante pela falta de análise que nós temos no Brasil. Outro sofrimento é a nossa dificuldade em legislação. Apesar da gente ter uma lei de parcelamento de solo que define parâmetros de urbanização, temos regras diferentes para cada local que a gente vai”, pontua Luiz Antônio.
Assistindo o Webinar ADIT Brasil, disponível no canal no YouTube da entidade, você confere ainda discussões sobre design paramétrico e design evolutivo, padrões de transformação nas cidades brasileiras e mais sobre como a inteligência artificial tem sido utilizada em projetos arquitetônicos no Brasil. Assista aqui.
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