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Incentivos em ESG para empreendimentos imobiliários e os critérios para atrair investidores
Desenvolvedores adaptam e elaboram novos projetos para contemplar diretrizes e valorizar imóveis
No mundo dos investimentos, projetos que contemplam diretrizes e práticas ambientais estão se tornando cada vez mais atrativos. Preocupadas com a sustentabilidade, muitas instituições financeiras estão incorporando critérios de ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) em suas análises de risco e concessão de crédito.
Assim, esses critérios têm influenciando decisivamente a maneira como projetos e empreendimentos são concebidos, financiados e gerenciados. As vantagens disso incluem a redução dos custos operacionais a longo prazo, a valorização do imóvel no mercado e a contribuição para a preservação do meio ambiente.
No entanto, é importante considerar também aspectos como custos iniciais mais elevados e possíveis limitações técnicas ou regulatórias. As especialistas no setor, Luciene Naccarati, head de originação e ESG da KRCB Investimentos, e Gabriela Antunes, gerente de meio ambiente e sustentabilidade na Wert, compartilham suas visões sobre o tema.
Alinhamento dos investidores com princípios ESG
O ESG representa um conjunto de diretrizes que guiam as decisões de investidores e financiadores, buscando não apenas o retorno financeiro, mas também o impacto positivo no mundo. Gabriela explica como o alinhamento dos investidores com esses princípios reflete na credibilidade da empresa, como na demanda por projetos que incorporem práticas ambientais sólidas.
“Nossos investidores são muito alinhados aos princípios ESG, e aplicar esses princípios gera segurança e confiabilidade, resultando em bons negócios.”, afirma a executiva que já atua em um empreendimento com certificação de ESG em andamento.
Luciene compartilha da mesma percepção e destaca a importância da governança transparente como pilar essencial para a gestão de riscos, capaz de definir a possibilidade e o nível de interesse dos investidores.
“Uma diretriz fundamental é a parte da governança corporativa, que a grosso modo se refere a administrar o seu negócio na transparência, o que você faz, quais são os números que sejam corretos e etc. Se não existe uma governança e uma administração transparente, gera um risco maior”, esclarece.
Exigências mínimas e desafios na implementação
Apesar do reconhecimento geral dos benefícios das práticas ambientais, a implementação dessas iniciativas exige ainda questões básicas de sustentabilidade.
Na visão de Luciene, o mínimo exigido para empreendimentos financiados inclui o reaproveitamento da água da chuva e a geração de energia verde, como o uso de placas fotovoltaicas. Ela observa que “a grande maioria dos empreendimentos já incorpora essas práticas, pois sabem que isso valoriza o imóvel e facilita a venda”.
Gabriela, entretanto, aponta desafios específicos, como o custo elevado e a escassez de materiais apropriados na construção civil — que ainda é um mercado com pouca atenção voltada para o ESG, uma vez que necessita de investimentos e apoios direcionados.
“Hoje os empreendimentos no Brasil são orientados por normas internacionais, um dos principais desafios é a falta de materiais sustentáveis, principalmente relacionados à construção civil. Seu elevado custo e falta de mão de obra qualificada podem ser um impeditivo para os níveis mais altos das certificações internacionais de sustentabilidade”, declara Gabriela.
Apesar das normas e certificações internacionais, ainda não existe uma regulamentação oficial dessas práticas para guiar os investimentos e o uso dos recursos financeiros destinados para o setor. Por isso, acabam sendo usados parâmetros estrangeiros que já tenham obtido alguma validação pelo mercado.
“Vale ressaltar que as diretrizes ainda não foram regularizadas no Brasil, na União Europeia ou nos Estados Unidos. No entanto, a União Europeia é referência, por ser onde o investidor já está olhando há mais tempo para os pilares de ESG no mercado imobiliário”, afirma Luciene.
Retorno sobre o investimento
Embora ainda haja desafios significativos, o consenso é que investir em ESG não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente para mitigar riscos e garantir retornos financeiros sólidos a longo prazo.
A executiva da KRCB detalha como os comitês de sustentabilidade, com apoio dos governos, por exemplo, incentivam que o empreendedor tenha visão de sustentabilidade, além das alternativas de investimentos que oferecem retornos mais lucrativos do que a própria bolsa de valores.
“O que se fala muito aqui no Brasil é a parte do mercado de carbono, que é uma maneira do investidor ganhar, então eu trago isso para dentro da empresa e coloco para os stakeholders, que seriam esses parceiros que tenham as mesmas práticas e com esse mesmo olhar para o outro lado quando se trata de estrutura ou operação”, revela Luciene.
Gabriela complementa, ressaltando que, embora os custos iniciais para implementar práticas ambientais sejam significativos, o retorno tende sempre a ser maior do que lidar com os possíveis problemas de um projeto em discordância com os requisitos ambientais e sociais, por exemplo.
“Os principais custos estão relacionados aos materiais sustentáveis, porém o retorno de serem executadas as práticas ambientais são maiores, eles asseguram uma proteção aos empreendimentos sobre riscos ambientais, como multas, embargos, entre outros. Em uma balança, executar as práticas ambientais custa menos do que um empreendimento com altos riscos de impacto ambiental”, afirma.
- Por Maíra Sobral – Analista de conteúdo na ADIT Brasil
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