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Comunidades Planejadas: Soluções urbanas eficientes para a qualidade de vida
O modelo se tornou uma alternativa eficaz na redução de gastos e emissões atmosféricas com transporte, conectividade e engajamento comunitário.
A necessidade de fuga da agitação dos grandes centros urbanos colapsados, há décadas transformou o conceito de comunidade planejadas em um sonho possível para quem busca planejamento urbano, mobilidade, segurança e sustentabilidade em um único lugar.
As tendências de desenvolvimento urbano contemporâneo, com o Novo Urbanismo em países como Estados Unidos, trouxeram novas perspectivas para gestores e empreendedores do setor que buscam soluções viáveis para suprir, em muitos casos, a deficiência e desequilíbrio de infraestrutura urbana e serviços cada vez mais comuns em grandes cidades, cujo crescimento acelerado reativo é o grande desafio.
Essas novas modelagens urbanas contemporâneas, respondem com eficiência grande parte dessas necessidades no Brasil e, gradativamente, esse tipo de empreendimento está se tornando cada vez mais procurado em algumas regiões do País.
Para entendermos esse modelo e as estratégias de aplicabilidade nas cidades brasileiras, a ADIT Brasil conversou com a Eng. Civil Doutora em Urbanismo, Giovana Ulian, da Biossplena Inteligência Urbana.
Por que investir em Comunidades Planejadas?
Giovana Ulian – São áreas projetadas para receber um núcleo urbano que ofereça a maioria das atividades próprias da cidade, favorecendo a integração entre estas, privilegiando a qualidade de vida dos seus ocupantes. Idealmente, oferecem um mix de atividades produtivas e/ou lucrativas (Comercio e Serviços) complementada por diversos conjuntos residenciais que permitam a estruturação de uma comunidade semi-autônoma que atende as necessidades cotidianas existentes na cidade. Geralmente, são grandes áreas que são implantadas em fases, onde cada uma potencializa a seguinte, permitindo adaptar as necessidades de acordo com a dinâmica do mercado imobiliário. São importantes iniciativas urbanas à medida que reduzem grandes deslocamentos e a necessidade de uso de transporte individual.
O que significa viver em uma comunidade planejada? Quais os impactos positivos em uma cidade?
Gionava Ulian – Para um bom projeto, implica em oferecer eficiência de tempo para executar atividades cotidianas e ganhar mais tempo disponível para atividades de lazer, pois oferece espaços para “amenities” cotidianas. Certamente, esta questão implicará em redução de gastos energéticos e emissões atmosféricas com transporte incrementar substanciais em qualidade de vida e engajamento comunitário. Estabelecer vínculos entre os usuários de estas comunidades tornam as relações de convivência mais saudáveis e permitem uma integração social importante para o desenvolvimento das pessoas.
Quais as diferenças entre comunidades planejadas e as incorporações imobiliárias tradicionais?
Giovana Ulian – Virtudes como organização e engajamento comunitário, junto com potenciar o senso de pertencimento ao local são incentivadas como estratégias de desenvolvimento nestes locais. Acredito que o mais importante princípio de uma comunidade planejada deve ser o resgate da forma de viver em comunidade de 50 anos atrás. A maioria das incorporações imobiliárias tradicionais não atendem esta necessidade de convívio entre os seus moradores e, muitas vezes, se perde a relação com o terreno. As comunidades planejadas consideram a requalificação dos espaços de uso comuns, criando uma rede de áreas de lazer integradas ao ambiente natural, que potencialize a ocupação destes espaços e a interação entre pessoas.
“Eu acredito que é o caminho para a melhoria das cidades brasileiras. É preciso resgatar a maneira de viver onde diversos tipos de usuários consigam conviver em harmonia e nossos filhos possam compartilhar de situações na rua com outras crianças”.
As comunidades planejadas são muito comuns em países como EUA. A tendência é irreversível no Brasil, mas o assunto ainda gera alguns questionamentos. Quais os entraves na implantação de uma comunidade planejada no Brasil?
Giovana Ulian – São muito comuns em países como EUA. Certamente, o maior entrave está em questões legais, ambientais e urbanísticas. Como são grandes áreas e são implantadas em fases, surgem conflitos para integrar requisitos projetados e executados. Outro ponto diz respeito a conectividade, especialmente transporte público e a necessidade de integrar-se ao resto da cidade.
Qual a sua visão atual e futura desse mercado no Brasil?
Giovana Ulian – Eu acredito que é o caminho para a melhoria das cidades brasileiras. É preciso resgatar a maneira de viver onde diversos tipos de usuários consigam conviver em harmonia e nossos filhos possam compartilhar de situações na rua com outras crianças. Acredito que as prefeituras não conseguiram implementar a nova infraestrutura e equipamentos necessários para novos empreendimentos urbanos, para o qual o modelo de comunidades planejadas seja uma resposta eficiente para executa-las, precisando ser absorvidas pelo investidor privado, em troca de benefícios. Porém, temos que estar atentos a não provocarmos um “espalhamento” urbano e incrementar os custos dos serviços públicos, priorizando a ocupação de áreas que já contam com proximidade a estes. As estratégias devem ser muito bem trabalhadas e planejadas entre o privado e o público. Os projetos que vimos nos Estados Unidos são amplamente acompanhados pelos desenvolvedores como se fossem filhos em crescimento.
Você participou da Missão Técnica EUA, promovido pela ADIT Brasil. Quais reflexões você trouxe com essa experiência?
Giovana Ulian – Acredito que existam muitos vazios urbanos que podem ser transformar em uma comunidade planejada e provocar a descentralização das cidades. No entanto é necessário um movimento político para que operações urbanas consorciadas aconteçam e a iniciativa privada possa atuar neste processo com mais liberdade para inovar. Transparência nos processos, agilidade na gestão pública, organização das informações urbanísticas e investir tempo de qualidade em debater e planejar assertivamente as respostas urbanas, são elementos importantes na minha opinião.
Os novos modelos de desenvolvimento urbano e o protagonismo das soluções aplicáveis em prol de cidades mais inteligentes, serão abordadas no COMPLAN 2018 – Seminário sobre Comunidades Planejadas, Loteamentos e Desenvolvimento Urbano, que reúne anualmente os principais profissionais e empresas,do setor. O seminário será realizado de 08 à 10 de novembro de 2018 em Fortaleza.
Graduada em engenharia civil pela Fundação Universidade de Rio Grande, especialista em gerenciamento ambiental pela Universidade Luterana do Brasil, doutorada em arquitetura e urbanismo pela Universidade del Bio-Bio (na cidade de Concepción, Chile. Em 2010, fundou a Biossplena, uma empresa que desenvolve espaços para vivência coletiva, lazer, habitação e trabalho, onde o foco é a qualidade de vida.
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