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Como os novos hábitos de consumo e estilo de vida transformam os espaços residenciais
Perspectivas sobre as tendências no mercado imobiliário e o impacto dessas mudanças nos empreendimentos
As mudanças nos hábitos dos consumidores, intensificadas pela pandemia, têm revolucionado a maneira como os projetos residenciais são concebidos. Com a busca por bem-estar, incorporadoras e arquitetos passaram a repensar o aproveitamento de cada metro quadrado.
Estudos sobre o comportamento do consumidor mostram que a decisão de compra de imóveis hoje está fortemente ligada a aspectos de qualidade de vida, sustentabilidade e funcionalidade.
Segundo o relatório da Brain Inteligência Estratégica, fatores como proximidade de áreas verdes e a presença de infraestrutura de lazer dentro são decisivos para os compradores. A busca por um lar ampliado inclui desde jardins e varandas maiores até espaços coletivos que incentivam a convivência e oferecem comodidades variadas.
A demanda por apartamentos que pareçam casa
A tendência aponta uma mudança no conceito tradicional de moradia, que passa a incorporar elementos antes associados ao estilo de vida em casas, mesmo em apartamentos menores.
Dessa forma, os projetos estão sendo adaptados para atender a novas necessidades, como os apartamentos garden e espaços de lazer que mantêm os moradores conectados ao verde e ao ar livre.
Para Laurent Troost, cofundador da TROOST + PESSOA Architects, as novas demandas culturais têm transformado os apartamentos garden — imóvel térreo com uma área externa própria, semelhante a um jardim privativo — em um diferencial muito valorizado, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
Ele destaca que esses espaços podem ser implementados desde imóveis compactos aos de alto padrão, oferecendo para os moradores um estilo de vida mais próximo ao de uma casa. Para o arquiteto, a pandemia influenciou fortemente esse movimento, aumentando a procura por áreas com essas características.
“Na região Norte é uma tendência mais nova. Em Manaus, por exemplo, essas mudanças culturais iniciam pelo alto padrão e é o que está acontecendo agora com os Gardens. Ainda não tem muitos projetos, eles estão sendo lançados aos poucos, mas eu acho que isso é sem dúvida uma das mudanças pós-pandemia”, afirma Troost.
Marcelo Gonçalves, sócio consultor da Brain Inteligência Estratégica, diz que para os apartamentos compactos se encaixarem nos novos hábitos e anseios dos consumidores, os incorporadores estão se preocupando cada vez mais com as áreas sociais que integram o empreendimento. Mas esse fator também se expande para outros modelos de apartamentos e de perfis de moradores.
“Quando olhamos para os gardens não são apenas nos compactos que vemos esse desejo crescer, já a vários anos os gardens tem grande procura, semelhante as coberturas, pois trás todos os benefícios de um condomínio e de apartamentos, mas também a comodidade e a privacidade de uma casa”, enfatiza Gonçalves.
Troost observa que as pessoas buscam hoje elementos como pé-direito duplo, varandas amplas e espaços abertos — características que promovem um ambiente de respiro e de contato com a natureza, ainda que em um apartamento compacto.
Ampliação dos espaços de lazer e conveniência
Além dos gardens, os clientes estão cada vez mais interessados em empreendimentos que ofereçam infraestrutura completa de lazer e bem-estar. Segundo Caetano Ximenes, diretor técnico da Record, há uma demanda crescente por espaços para trabalho e estudo, salões de jogos, áreas para recreação com animais e locais com estrutura para eventos e socialização.
“Estamos sendo muito demandados por espaços para coworking, onde as pessoas possam trabalhar fora de casa, mas dentro do prédio, além de espaços de lazer abertos, espaços para pets, que hoje é quase que obrigatório, academias mais amplas e diversificadas”, explica o executivo.
Troost complementa que o objetivo de muitos projetos, no sentido de proporcionar conveniência e conforto, é criar espaços onde o morador possa resolver praticamente tudo dentro do próprio edifício, com a mesma ou ainda mais qualidade e praticidade.
“A ideia da conveniência é tentar fazer com que o usuário de um edifício saia o menos possível, que faça o máximo do dia a dia dele dentro do prédio. Então, isso vai desde poder trabalhar a poder se divertir em várias opções de lazer, todas com as qualidades e atributos que se encontram fora do condomínio”, comenta o arquiteto.
Troost também destaca que, embora o trabalho remoto tenha popularizado os famosos coworking, a grande interferência do trabalho tem estado, na verdade, nos empreendimentos de uso misto.
“As mudanças estão mais no desenvolvimento dos novos produtos corporativos, com o produto misto sendo mais procurado, onde dentro do mesmo empreendimento se tem uma parte residencial e uma parte corporativa e/ou comercial. Tudo isso para minimizar o deslocamento entre esses ambientes pessoais e profissionais”, enfatiza.
Inovação e sustentabilidade nos empreendimentos
Outro aspecto relevante é o investimento em sustentabilidade, uma prioridade que se reflete tanto na implementação de tecnologias em áreas comuns quanto nas unidades residenciais, como Ximenes destaca.
“Nas áreas comuns com o avanço do carro elétrico, estamos deixando pontos de carregamento e sistema de controle de iluminação e ar por automação, além da central de monitoramento na parte de segurança, sistema de entrada por radiofrequência, sensor de presença em todos os hall´s, wi-fi, e fechaduras digitais”, diz o diretor da Record.
Dentro das unidades, ele cita a integração e automação dos ambientes como umas das tendências fortes entre os moradores que buscam não só segurança e tecnologia, mas priorizam também a ventilação e iluminação natural em todos os cômodos do apartamento.
“Usamos sistema de leitura facial, para evitar o contato físico. Marcação de uso de espaços por software. Dentro da unidade também vemos mudanças, como espaços integrados e mais abertos, o uso de automação de conforto, práticas de coleta de óleo de cozinha”, exemplifica Ximenes.
Troost sugere que a arquitetura deve levar em consideração o clima e o contexto local, para melhor aproveitar a orientação solar e a ventilação natural, por exemplo, em vez de simplesmente cumprir listas padronizadas de itens sustentáveis.
“Um bom projeto de arquitetura com aspectos de sustentabilidade não deve ser apenas atrelado a checar uma lista padrão, mas sim entender quais são os verdadeiros desafios climáticos e do contexto local, onde está implantado o empreendimento para poder propor uma solução adequada”, pontua.
Os novos hábitos de consumo e as exigências dos clientes têm impulsionado uma série de mudanças na arquitetura residencial e ainda nas regulamentações previstas para os empreendimentos, como menciona Troost, vendo nesse processo uma oportunidade de promover novos benefícios tanto para quem compra quanto para quem desenvolve os projetos imobiliários.
“Essa procura por espaços verdes em outras cidades, em outros países, como Singapura, tem gerado legislações para quando houver espaço para um parque acessível ao público dentro do empreendimento, o empreendedor ganhar o direito de poder construir a mais. No mundo ideal, esse seria um meio de transformar essas necessidades atuais em obrigatoriedades que geram bonificações para todos”, acredita Troost.
- Por Maíra Sobral – Coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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