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Como o ESG afeta o mercado imobiliário e o desenvolvimento das cidades para as pessoas
POR FELIPE MIRANDA/ ADIT BRASIL
Se tempos atrás o conceito de investimentos sustentáveis e socialmente responsáveis era visto como uma tendência, sua real aplicação atualmente é algo indispensável na concepção de um empreendimento de sucesso. Os critérios inseridos no chamado ESG (Environmental, Social and Governance) ou, em português, Ambiental, Social e de Governança, apontam se sua empresa, fundo ou projeto são financeiramente saudáveis, lucrativos, e, socialmente e ambientalmente conscientes. Em 2020, o Brasil possuía mais de 60 operações de crédito sustentáveis, movimentando cerca de 7 bilhões de dólares.
Para a sócia da Mauá Capital, Carolina da Costa, quem está no setor imobiliário está no melhor ambiente para a agenda ESG. Ela cita um paradoxo interessante para falar sobre isso: se nada for feito, o setor que mais gera emissão de gás de efeito estufa no mundo, será, naturalmente, o mais afetado pelas consequências desse ato.
“Cerca de 40% dessa emissão é gerada pela construção civil, que também é a maior consumidora de energia a nível mundial”, explica.
Com mais de 20 anos de experiência na gestão empreendedora de projetos e organizações sem fins lucrativos com impacto social, Carolina aponta que 9% do PIB Mundial é o passivo estimado de toda propriedade construída em regiões costeiras ao redor do globo que vai sofrer com o impacto climático até 2070.
“Aqueles que souberem ler as mudanças comportamentais no trabalho, na vida social e no turismo, vão estar em uma posição de maior vantagem na concepção de funding para projetos do setor imobiliário”, pontua.
Pode-se dividir o ESG em três tópicos principais – que são analisados para certificações e avaliações externas.
- Práticas ambientais como o uso de matéria-prima sustentável, a emissão de carbono, os descarte correto de lixo, a poluição gerada nos processos, entre outros.
- Questões sociais como relacionamento com sociedade, funcionário e comunidade afetada por suas atividades, diversidade, representatividade, direitos trabalhistas, entre outros.
- Governança nos aspectos de controle e direcionamento ético do negócio, liderança, estrutura do conselho de administração, prevenção à fraudes, entre outros.
Até 2050, mais de 70% da população vai viver em cidades. “Fazer parte do setor imobiliário não é apenas sobre construir prédios, mas, sim, estar por dentro dos novos modelos de viver e consumir.” O Real Estate não muda de um dia para o outro. “O desafio é aportar capital em investimentos consonantes com essas tendências. Atualmente 3% do portfólio ESG existente está nesse segmento. Poderia ser muito mais e apenas um planejamento pode transformar o futuro.”
Todos aqueles que participam do mercado financeiro, sejam gestores, órgãos fiscalizadores ou entidades de classe, já incluíram o ESG em sua agenda. Não é preciso ir longe para buscar exemplos de ativos imobiliários vulneráveis a essa série de impactos ambientais.
Segundo o consultor de finanças sustentáveis da SITAWI Finance for Good, Guilherme Teixeira, o Brasil tem um extenso histórico de casos de danos a imóveis por elevação do nível do mar. Para mudar esse cenário, é preciso enxergar a prática ESG como um propósito.
“Não faz sentido querer surfar a onda sem aderir aos princípios de investimentos responsáveis. É uma trajetória de maturidade que precisa de verdade”, conta. Ele aponta a necessidade de olhar para os riscos físicos, legais e regulatórios que envolvem uma boa gestão como um todo. “O ESG é apenas uma parte.”
“ESG não é certificação, não é compliance, não é checklist e muito menos apenas os aspectos ambientais. É criação de valor”, conclui Carolina da Costa, da Mauá Capital. O Environmental, Social and Governance é sobre criar cidade dentro de cidades e construir espaços com a correta leitura do comportamento das pessoas.
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