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Como adotar práticas de ESG e sustentabilidade para gerar economia e mitigar riscos no negócio imobiliário
Reuso de água, eficiência energética e conservação de recursos são algumas das estratégias eficientes para reduzir impacto ambiental
Uma tendência crescente no setor de real estate, ESG (sigla em inglês para os cuidados com os setores ambiental, social e de governança) refere-se a um conjunto de critérios utilizados para avaliar o desempenho da empresa em áreas além do financeiro.
No contexto ambiental, as empresas são avaliadas com base em suas práticas de sustentabilidade, gestão de recursos naturais e impacto ambiental. Isso inclui iniciativas para reduzir emissões de carbono, conservar energia e água, e adotar políticas de reciclagem e gestão de resíduos
Para Myriam Tschiptschin, gerente do núcleo de smart cities e infraestrutura sustentável da CTE e coordenadora da comissão ESG da ADIT Brasil, é possível adotar duas frentes, a de preservação ambiental e a de redução das emissões de gases efeito estufa (GEE).
Enquanto este último está ligado à transição para fontes de energia limpa e renovável, como solar, eólica e hidrelétrica, em substituição aos combustíveis fósseis e medidas de eficiência energética, a preservação ambiental tem uma vertente mais ampla para todos os modelos de negócio imobiliário.
“Além da preservação de elementos naturais que podem eventualmente existir no terreno — como vegetação e ecossistemas aquáticos —, o projeto deve prever a economia máxima de recursos, sobretudo hídrico, energético e de materiais”, pontua Myriam.
Mais que isso, a coordenadora também afirma a necessidade de mitigar danos ambientais relacionados à poluição pelo descarte e a extração excessiva de materiais orgânicos, especialmente os não reflorestados.
“Deve ser visada à circularidade dentro do próprio empreendimento, ou seja, os insumos gerados ali são reintroduzidos no processo, sem a necessidade de se extrair mais recursos naturais”, explica.
Melhores práticas
Embora já existam campanhas de conscientização sobre as políticas de sustentabilidade e conservação ambiental há muitos anos, a aplicação das teorias podem ser um obstáculo. No entanto, Myriam ressalta algumas práticas que podem ser facilmente adotadas e já cumprem um papel fundamental.
“Os materiais empregados nas obras devem ser sustentáveis, fabricados próximos ao local do projeto, possuir conteúdo reciclado na sua composição e serem de baixa toxicidade. O resíduo gerado na operação deve ser reutilizado, reciclado ou compostado”, enfatiza.
O reuso da água, por exemplo, é uma medida básica que pode ser usada em tarefas como irrigação, descargas e lavagem de pisos. Os sistemas para esse reaproveitamento utilizam água da chuva e dos próprios efluentes.
“A água da chuva deve ser aproveitada para fins não potáveis e o excedente infiltrado no solo, para recarga do lençol freático, através de um ciclo contínuo com jardins de chuva e pavimentos permeáveis. Da mesma forma, os efluentes gerados devem ser tratados dentro do próprio empreendimento para fins não potáveis”, diz Myriam.
Outro ponto de economia citado por ela é a escolha de sistemas de iluminação, ar-condicionado e elevadores, por exemplo, com a máxima eficiência energética, para gerar o mínimo consumo. O ideal seria também o abastecimento elétrico a partir de fontes de energia renováveis, preferencialmente geradas no próprio empreendimento.
Para facilitar a adesão e manutenção dessas práticas, o empreendimento deve possuir uma infraestrutura que facilite a coleta seletiva e a adequada destinação de resíduos. A especialista destaca ainda que tudo isso deve ser acompanhado de educação ambiental e engajamento dos habitantes para o melhor funcionamento.
Myriam destaca várias vantagens em adotar práticas sustentáveis em projetos urbanos. Ela aponta que essas medidas contribuem para a criação de cidades inteligentes, com menor impacto ambiental, promovem saúde e bem-estar e reduz os custos operacionais, facilitando a gestão de stakeholders e minimizando riscos.
Essas práticas não apenas contribuem para a sustentabilidade do empreendimento, mas também podem gerar impactos positivos no mercado e junto aos clientes.
“Empresas que adotam políticas ambientais responsáveis geralmente são vistas com bons olhos pelos consumidores, que cada vez mais valorizam marcas engajadas com questões ambientais. Além disso, o alinhamento com diretrizes ESG pode atrair investidores e financiadores que buscam projetos sustentáveis e socialmente responsáveis”, afirma Myriam.
Implementação em empreendimentos já existentes
A implementação de práticas ambientais em empreendimentos já existentes pode ser um desafio, mas há várias abordagens viáveis. Salete Pereira, coordenadora de sustentabilidade no Grupo Habitasul, fala sobre algumas dessas estratégias.
“Para implementar práticas ambientais em empreendimentos já existentes, inicie com o mapeamento dos impactos e aspectos ambientais positivos e negativos atrelados ao empreendimento e suas atividades”, orienta.
“Com esse diagnóstico e observando as boas práticas existentes no mercado, é possível estabelecer as metas ambientais, com o intuito de preservar os recursos ambientais, proteger a natureza e mitigar os impactos da operação”, declara a especialista.
Salete também indica a criação de uma política ambiental para auxiliar na governança do tema com todas as partes interessadas. Outra fonte de inspiração para a gestora ambiental é alinhar as práticas, aos movimentos mundiais.
“Siga o exemplo do Fórum Econômico Mundial, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), COP e outros, que, com base na ciência, discutem soluções para os problemas vivenciados por todas as pessoas do planeta: É o tão falado, pensar global e agir local”, exprime Salete.
Segundo ela, as empresas líderes do futuro, serão aquelas que conseguirem formular estratégias de negócio que promovam a competitividade por meio da solução de problemas mundiais, como as mudanças climáticas, escassez de recursos, diversidade e direitos humanos. Logo, a formação humana se torna um ponto crucial.
“Desenvolva parcerias sustentáveis. Engaje seus colaboradores, fornecedores, clientes, governo e outras instituições para promover projetos que transformem a relação das pessoas com o meio ambiente”, diz Salete.
“E um conselho como educadora socioambiental, invista na educação socioambiental das crianças. Contribua para deixar pessoas melhores para o mundo”, finaliza.
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