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Como a mudança do Brasil no grau de risco da Moody’s impacta o mercado imobiliário e turístico?
Análise de especialistas revela otimismo cauteloso e a necessidade de ajustes macroeconômicos para atrair investimentos significativos
Após a Moody’s, uma das principais agências de classificação de crédito do mundo, elevar a classificação de risco do Brasil, o país se encontra agora em grau especulativo e a apenas um nível de obter novamente o esperado grau de investimento.
A agência classifica os graus de crédito de um país com base em uma escala que vai de AAA (menor risco e maior confiabilidade) até C (risco elevado e alta possibilidade de inadimplência). Com a elevação, a nota brasileira saiu de Ba2 para Ba1.
No entanto, a notícia ainda não representa uma mudança imediata para os mercados imobiliário e turístico, que aguardam mais consistência econômica e ajustes na gestão pública para se tornarem atrativos a investidores internacionais.
O que significa o novo grau de risco para o Brasil?
Para Guilherme Lapo, sócio do RExperts, a nova classificação deve ser vista com cautela. Isso pois, apesar da melhora ser claramente um indicativo positivo, os riscos associados ao cenário econômico continuam elevados, especialmente sobre outras perspectivas.
“Embora a Moody’s tenha elevado o rating do Brasil (ainda abaixo do grau de investimento, mantendo o grau especulativo), as outras duas principais agências, Standard & Poor’s e Fitch, mantêm nossa classificação dois degraus abaixo do grau de investimento, sem viés de melhora anunciado”, esclarece o executivo.
A razão para ainda não se ter ratings mais altos das demais agências tem a ver com o cenário de incerteza — que afeta diretamente o mercado imobiliário e exige uma maior estabilidade para atrair investidores que buscam menor risco.
“O cenário econômico atual apresenta um aumento nos gastos públicos, crescimento da dívida e com taxas de juros elevadas. Apesar da arrecadação recorde, esses fatores podem indicar um futuro econômico mais incerto do que a Moody’s projeta, impactando o mercado imobiliário e turístico”, pontua Lapo.
Cenário para potenciais investimentos internacionais
De acordo com Ricardo Mader, diretor da JLL, a obtenção do grau de investimento ajuda a todos os setores da economia, incluindo o hoteleiro e turístico, e mesmo que ainda não cause mudanças enfáticas, poderá ser importante para trabalhar a visão de novos investidores que ainda não entraram no país.
“Isso ameniza obviamente para alguns fundos de investimentos, principalmente fundos soberanos e investidores que ainda não estão no Brasil. Para investidores internacionais que já estão aqui, já existe um histórico para uma confiança maior, agora para quem não têm nenhum investimento no Brasil, não ter o grau de investimento é um impedimento grande”, elucida Mader.
Roland Bonadona, diretor do BHC, afirma que os empreendimentos do ramo turístico necessitam de financiamento contínuo para o desenvolvimento de novas ações e manutenção, e as taxas de financiamento são influenciadas pela nota de risco de investimento do país.
“O mercado turístico tem uma característica e dimensão global. Muitos grupos são internacionais e têm vocação para investir em países como o Brasil, que possui atrativos e um grande mercado interno. No entanto, para que esses investimentos ocorram, é fundamental ter condições de segurança e estabilidade, daí a importância da nota de crédito”, ressalta Bonadona.
Expectativas e desafios do setor imobiliário e turístico
O setor imobiliário ainda enfrenta desafios que vão além da questão do rating de risco. A reforma tributária é citada como um fator de incerteza por Lapo, já que pode resultar em um aumento da carga de impostos sobre alguns nichos do setor imobiliário, impactando a viabilidade econômica dos empreendimentos.
“É importante lembrar que a ‘confiança real’ só se consolidará com uma sequência de eventos e políticas que reforcem esse movimento, o que ainda parece muito incerto com a gestão política atual”, acredita Lapo.
O executivo aponta ainda que o setor imobiliário enfrenta desafios ligados às altas expectativas de retorno exigidas pelos investidores, estas que dependem de spreads — diferença entre duas taxas de juros — sobre os títulos públicos, como as Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B).
“Com NTN-Bs acima de IPCA + 6,7% ao ano e a Selic em tendência de alta, o custo de funding aumenta, afetando tanto os investidores de equity e debt quanto os financiamentos aos compradores finais de unidades”, comenta o executivo.
Mader também enfatiza a urgência na melhoria das questões macroeconômicas para que exista tração nos investimentos imobiliários de maior risco, como no setor hoteleiro turístico, dadas às altas taxas de juros em outros países e o risco de câmbio das operações internacionais.
“O Real vem sendo muito desvalorizado, uma moeda que está muito volátil. O investidor tem medo de investir 100 milhões de dólares aqui e perder só na variação cambial. Precisamos equilibrar melhor a economia para poder tornar o setor mais atrativo. Hoje é mais barato, se tiver a oportunidade, comprar um hotel do que construir um novo”, aponta o diretor da JLL.
Assim, Bonadona defende que a elevação do rating pela Moody’s é um bom passo, mesmo exigindo um avanço maior na confiança internacional a partir de uma série de ajustes fiscais e econômicos mais amplos.
“A melhoria na classificação de risco do Brasil não apenas facilita o acesso ao financiamento para projetos turísticos e imobiliários, mas também aumenta a confiança dos investidores internacionais, promovendo um ciclo positivo de desenvolvimento econômico e novas oportunidades”, complementa Bonadona.
- Por Maíra Sobral – Coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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