Por Marcos Kahtalian, sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica

Como está a economia brasileira esse ano? E como está a atividade imobiliária? Poucas vezes foi tão desafiador encontrar consensos quando conversamos com empresários e líderes de mercado. Como no título deste artigo, há aqueles pessimistas, mas também há os mais otimistas. Mas, afinal, o que está acontecendo no mercado e o que podemos esperar para o segundo semestre e início do próximo ano? Com qual copo podemos brindar esse ano?

Primeiro ao copo cheio: é preciso notar que, de fato, a economia brasileira vem demonstrando notável resiliência. O PIB do primeiro trimestre cresceu 1,4% em relação ao trimestre anterior, um dos maiores crescimentos dentre as principais economias mundiais. Em 12 meses fechados em março, isso representou um crescimento de 3,5%, o que é bastante significativo. Consultorias e bancos vêm revendo suas estimativas para o PIB desse ano que deve ficar entre 2,2 e 2,5%. Ao mesmo tempo, a inflação vem dando sinais de arrefecimento, tendo fechado maio com 0,26%, com expressiva queda em alimentos, indicando uma curva menor em 12 meses. O emprego continua forte, com a taxa de desemprego tendo atingido 6,6%, segundo a PNAD contínua em abril – o menor valor desde 2012. Para completar o copo meio cheio, os lançamentos e vendas de apartamentos novos, medidos pela CBIC com dados produzidos pela BRAIN, indicaram um crescimento médio de 15% em lançamentos e vendas do primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

E o copo meio vazio?

Bem, o copo meio vazio está na esteira do crédito fora do Minha Casa Minha Vida, visto que os recursos do SBPE estão não apenas restritos esse ano, mas, sobretudo, com alto direcionamento para a pessoa física, como mostram os dados da ABECIP. Isso significa, crédito mais escasso ou mais caro para as empresas lançarem novos projetos, tendo que se financiar pelo mercado de capitais, que já representa 40% do estoque de crédito total imobiliário no Brasil. Assim, estamos falando de novos projetos que vão ser financiados, dada a taxa de juros atual da economia, ao redor de 20% ao ano – o que todo empreendedor sabe como fica apertada a margem – qualquer escorregão e o resultado se esvai.
Então chegamos ao verdadeiro ponto, uníssono em sua concordância: a taxa de juros está alta demais, com juro real muito elevado. Copos vazios ou cheios concordam.

O que reservam as próximas reuniões do Banco Central sobre esse tema? Por quanto tempo a taxa de juros permanecerá elevada?

E aqui chegamos, portanto, a leitura desse ano: como tivemos um primeiro semestre muito aquecido, mesmo com algum desaquecimento no segundo semestre, acredita-se que o ano terá um bom desempenho imobiliário, sustentado pela força da demanda (movido a alta de emprego); baixo estoque geral em muitas cidades, inclusive no urbanismo; e a entrada plena do Minha Casa Minha Vida IV, com imóveis até R$ 500 mil.

Para o ano que vem, possivelmente o impacto dessa taxa de juros elevada deve se fazer sentir com mais força, embora que se a inflação se comportar, poderemos ter uma redução da taxa de juros estimulando o mercado. A grande variável para se acompanhar não será propriamente econômica, mas política, visto que o ano eleitoral sempre traz alguma volatilidade. Até o final deste ano, entretanto, o cenário deve permanecer sem alterações.

Copos meio cheios ou meio vazios, escolham sua taça! Por enquanto, devemos brindar a resiliência do mercado, apostando sempre em bons produtos, cada vez mais assertivos e a demanda que está procurando boas oportunidade nesse cenário volúvel.

Marcos Kahtalian é graduado em Comunicação Social pela UFF, pós-graduado em Administração pela FAE Business School, mestre em Multimeios pela Unicamp e doutor em Semiótica pela PUC-SP. Além de Sócio-Fundador da Brain Inteligência Estratégica, ele é Vice-Presidente de Banco de dados do Sinduscon – PR, professor de cursos de pós-graduação e MBA em Marketing e Estratégia e autor do livro Gestão Fora do Eixo.