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Artigo – Medellín: A favela deixou de ser um lugar dos esquecidos

Por Murilo Cavalcanti – idealizador dos Centros Comunitários da Paz do Recife
Violência e narcotráfico. Duas palavras sinônimas de Medellín, na Colômbia, por gerações. Nas décadas de 1980 e 1990, outras duas palavras ficaram ainda mais famosas: Pablo Escobar. O nome mais famoso da violência transformou o narcotráfico do Cartel de Medellín em um problema internacional.
O dinheiro da venda de drogas na Europa e nos Estados Unidos se revertia em mortes em Medellín e pelo resto do território nacional. No dia 05 de setembro de 1993, na maior vitória da história do futebol colombiano, um acachapante 5 a 0 na Argentina, dentro do Monumental de Nuñez, houve mais de 80 mortes pelo país de pessoas que estavam comemorando.
A paixão e a felicidade do futebol se materializaram em corpos velados. Todo cidadão de Medellín tinha na família um assassino ou um assassinado. A morte era normal. Mas, hoje, os olhos do mundo não se viram mais para o narcotráfico. A cidade é referência internacional por suas transformações urbanas, sociais, educativas e culturais. Medellín provou que o contrário de insegurança não é a segurança. O contrário de insegurança é a convivência. Através da construção de espaços multiculturais, principalmente com bibliotecas e áreas de recreação, a população percebeu que conviver sem matar é muito melhor do que viver matando.
Mas o que aconteceu nesses últimos quase 30 anos? Como os paisas, como são chamados os moradores de Medellín, conseguiram reduzir a taxa de homicídios da cidade em menos 2.000%? Por que Medellín, uma grande cidade dentro de um país que se assemelha muito ao Brasil – dois países subdesenvolvidos, que convivem com problemas parecidos, dividimos inclusive a mesma Amazônia – conseguiu encontrar solução para um desafio que cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, não encontraram?
O principal motor da transformação foi a ação conjunta do tripé poder público, setor privado e pessoas, principalmente as pessoas, ressignificaram a cidade. O poder público fez com que os mais pobres tivessem acesso aos serviços dos mais ricos. Os mais ricos já têm dinheiro para ter acesso. São os mais pobres que precisam de transporte público, saneamento básico, gás encanado, bibliotecas, escolas, creches e hospitais públicos de boa qualidade. E como são arquitetonicamente lindos e inclusivos esses projetos. A arquitetura aqui não é um detalhe, é parte de um projeto urbanístico que apagou a linha que separa a comunidade do espaço urbano. Ela é inclusiva. Todos
têm direito ao que é bonito. A favela deixou de ser um lugar dos esquecidos. A ordem foi e é: o melhor para os mais pobres.
O setor privado entendeu que, até mesmo para ele, uma população bem-educada é mais rentável e apoiou diversas iniciativas. Dessa forma, as pessoas entenderam que sorrir é melhor que chorar.
O mapa de Medellín hoje é o mapa da dignidade. As crianças e adultos antes recrutados pelos narcotraficantes e paramilitares, as milícias colombianas, hoje são recrutados para ler, para dançar, para se apresentar, para ser cidadãos e receber aplausos. A vida ganhou cores. Eu gosto de dizer que direito sem oportunidade, não é direito. E as oportunidades, ah…essas precisam ser criadas. E aqui deu muito certo!
Medellín será um dos destinos da Missão Colômbia da ADIT Brasil, que acontecerá de 17 a 28 de agosto, e irá se aprofundar nos empreendimentos e urbanismo referência também da cidade de Bogotá. Quer saber mais sobre a missão? Acesse aqui.

Murilo Cavalcanti foi secretário de Segurança Cidadã da cidade do Recife, é especialista em Urbanismo Social, além de ser responsável pela concepção e modelo de gestão da rede COMPAZ do Recife. É autor do livro “Conexão: Recife – Medellín – COMPAZ”.

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