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Arquitetura é peça-chave para estética e funcionalidade em empreendimentos de uso misto
Edifício Platina 220, Königsberger Vannucchi. Foto: Pedro Vannucchi
Integração e tecnologia norteiam escolhas certeiras para esse tipo de projeto
Os empreendimentos de uso misto têm ganhado cada vez mais protagonismo no mercado imobiliário, oferecendo soluções urbanas completas. Por outro lado, ao integrar habitação, lazer, serviços e áreas corporativas em um mesmo espaço, esses projetos exigem da arquitetura encontrar o equilíbrio entre estética e funcionalidade para o cotidiano.
Para especialistas, garantir essa harmonia requer uma compreensão profunda do território e do tipo de vida que se quer promover ali. Segundo Paulo Gonçalves, arquiteto e sócio da Unyt Arquitetura, sua função nesse sentido é atuar como um mediador sensível.
“Em muitos projetos recentes que temos desenvolvido, as soluções mais eficazes vieram justamente do uso inteligente da transição: espaços que não são nem totalmente privados, nem completamente públicos, mas zonas de convivência que acolhem, protegem e conectam”, revela Gonçalves.

“Em projetos de uso misto, não se trata apenas de empilhar funções, mas de entender como essas funções se relacionam no tempo e no espaço.”
Paulo Gonçalves
Henrique Mélega, também arquiteto e sócio-fundador do IDE Studio, defende que a arquitetura é a grande responsável pela qualidade de um empreendimento. Para o executivo, o ponto de partida é justamente compreender a finalidade da construção antes mesmo que o projeto comece a ser desenvolvido.
“As relações de separação e conexão entre diferentes usos, a funcionalidade, a implantação no lote e sua relação com o entorno, materiais e design são algumas das ferramentas que a arquitetura pode e deve utilizar para atingir os objetivos propostos para um empreendimento e determinar seu sucesso e qualidade”, ressalta Mélega.
Impacto do uso misto no desenho urbano
Projetos de uso misto contribuem para uma parte muito atual do desenvolvimento urbano, como conta Fabrizio Rastelli, Diretor de Novos Negócios da Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, pois assim são criados ambientes multifuncionais, com potencial para aumentar a vitalidade dos espaço públicos, a partir da convivência social e minimizando deslocamentos.
“A fusão de usos impulsiona a vitalidade urbana e a diversidade social e econômica nos bairros, transformando-os em locais mais dinâmicos e acolhedores, como ilustrado pelo Edifício Platina 220 e seu impacto no eixo urbano adjacente”, exemplifica Rastelli.

De maneira prática, esses empreendimentos podem reunir esportes, gastronomia, lazer, educação e serviços, de modo planejado e coordenado, para incentivar um ciclo de uso contínuo, que transforme a relação das pessoas com o espaço.
“E esse tipo de influência não é só sobre a rotina individual. É também sobre o comportamento coletivo. Um projeto bem resolvido pode, sim, mudar a maneira como as pessoas usam o bairro, como elas se apropriam da rua, como se sentem pertencendo a um lugar”, comenta Gonçalves.
Por outro lado, Mélega pontua que a arquitetura é um produto do desenho urbano, este que se refere a uma escala maior do planejamento e organização de uma determinada área. Para ele, ambas as coisas devem caminhar em conjunto.
“O desenho urbano deveria ser algo planejado, com uma intenção. Tendo como ponto de partida um projeto urbanístico, a arquitetura trabalha dentro deste conjunto de possibilidades e regramentos propostos por este plano, seja este uma lei de zoneamento e uso do solo, um Plano Diretor ou qualquer outro tipo de plano urbanístico”, destaca Mélega.
Soluções a partir da integração de funções
O executivo frisa que existem diversas possibilidades de soluções proporcionadas por empreendimentos de uso misto, como a construção de espaços modulares para funções multiusos. A estratégia pode envolver ainda as áreas próximas do edifício, expandindo os benefícios para todos que frequentam aquela localidade.

“A integração dos edifícios com a vida urbana do entorno através de comércio, fachadas ativas e fruições públicas, são medidas que melhoram muito a interação social e segurança da região”.
Henrique Mélega
Já Fabrizio cita que as soluções arquitetônicas inovadoras em empreendimentos de uso misto englobam sustentabilidade e conforto. Para isso, ventilação e iluminação naturais
controladas, uso de vidros com controle solar, reconhecimento facial e de veículos, são práticas que permitem o compartilhamento seguro de áreas comuns de acordo com a dinâmica de cada atividade ao longo do dia.
“Somam-se a essas estratégias soluções projetuais, como praças de acesso e uso público, estudos de fluxos de circulação e integração dos espaços abertos com o entorno urbano, que fortalecem a conexão entre edifício e cidade”, exemplifica Rastelli.

O sócio da Unyt também defende soluções que trabalham com a ambiguidade espacial, dando ainda mais possibilidades para o empreendimento, mas especialmente para o público que se beneficia desses espaços.
“Um jardim que também é foyer, uma praça que funciona como espaço de convivência e eixo de circulação, ou um mobiliário que convida ao uso sem definir exatamente sua função. Isso cria espaços mais vivos, menos prescritivos — e, consequentemente, mais interessantes”, diz Gonçalves.
Estética, funcionalidade e sustentabilidade
Um dos maiores desafios dos empreendimentos de uso misto está justamente em garantir que cada detalhe dialogue com a proposta maior do projeto. Mais do que entregar beleza ou praticidade isoladamente, a arquitetura precisa responder às demandas do cotidiano e, ao mesmo tempo, se comprometer com soluções responsáveis para o futuro, como discorre Rastelli.
“Do ponto de vista técnico, o equilíbrio entre estética, funcionalidade e sustentabilidade nesses projetos é alcançado por meio de uma abordagem holística que considera forma, função e impacto ambiental simultaneamente”, afirma o executivo da Königsberger Vannucchi.

“Com o uso da tecnologia, através de softwares de modelagem e simulações, é possível conceber melhor os ambientes e antecipar interferências de obra, reduzindo prazos e desperdício de material.”
Fabrizio Rastelli
Nesse cenário, a tecnologia concilia as múltiplas finalidades que envolvem os empreendimentos de uso misto. Ela permite integrar dados, prever cenários e adotar soluções mais precisas, garantindo maior eficiência nos processos e melhores resultados para todos os envolvidos.
“O uso da tecnologia é fundamental, desde o início com uso de ferramentas avançadas de projeto, como o BIM, escolhas inteligentes de soluções, design e materiais, busca de sistemas eficientes e soluções que sejam boas tanto para o empreendimento e seus usuários diretos, quanto para seu entorno e inserção urbana”, comenta Mélega.
Além de aspectos técnicos e funcionais, a arquitetura para empreendimentos de uso misto também carrega uma dimensão subjetiva e simbólica. Gonçalves acredita que a capacidade de permanência, aliada à habilidade de gerar conexão afetiva, garante o verdadeiro valor de uma obra.
“Tem algo que valorizo muito, que é a longevidade emocional. Um bom projeto é aquele que continua fazendo sentido depois de anos. Que não cansa, que segue funcional mesmo com mudanças nos hábitos e nas demandas. Quando você consegue unir coerência, técnica e um pouco de poesia o projeto se sustenta”, acrescenta.
- Por Maíra Sobral – Coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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