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Além da Curva com Celso Petrucci |Um bate-papo sobre cartórios, construção civil, FGTS e política monetária
Países desenvolvidos costumam ter um controle estatístico maior de variados setores da economia – é dessa forma que estudos, soluções e estratégias são definidos para o fortalecimento da sociedade como um todo. No mercado imobiliário, a parceria entre os cartórios de registro de imóveis e o governo (federal, estadual e municipal) pode facilitar esse processo de mensurar e prever cenários. Quem está na linha de frente dessa coleta de dados reconhece os gargalos – e eles não são poucos.
“A dificuldade de hoje não é diferente da que existia na década de 1990. Alagoas, por exemplo, é um bom exemplo desse levantamento de dados que é feito com a ajuda de consultoria especializada”, afirma Celso Petrucci, Vice-Presidente da Área Imobiliária da CBIC e Economista-chefe do SECOVI/SP. Segundo ele, a nível nacional se consolidam dados de apenas 150 cidades que possuem a mesma metodologia. “Tenho a impressão de que capturamos 40% do mercado.”
Convidado no podcast Além da Curva, da ADIT Brasil, Petrucci conversa com Felipe Cavalcante e traça um panorama sobre economia e mercado imobiliário, além de analisar as principais questões que impactam o setor. A assimetria dos procedimentos e das tabelas é vista por ele como um perigo e a grande causa da dificuldade em avançar em vários assuntos, como a digitalização dos cartórios brasileiros.
“Em São Paulo, já temos condições de saber quantas transações foram feitas mensalmente, de que tipo são elas, se são compra e venda, se é residencial ou comercial… Uma série de dados estão sendo tabulados por uma associação regional, mas a ideia é ter uma centralizadora que faça isso com uma abrangência nacional”, conta. As investidas para que a ideia se torne real são muitas, mas o Governo Federal não sabe por onde começar.
“Não sabe. Um exemplo. Se formos começar pelos empreendimentos verticais, horizontais e residenciais aprovados, será preciso agregar informações de mais de 5 mil prefeituras no país. Se formos trabalhar com o Registro de Imóveis são outros 2.200. É muita coisa”, explica.
O Banco Central, ele aponta, usa todos os laudos de avaliação e financiamento concedidos para estudar a questão de preço e enxergar como andar o mercado imobiliário no país. “Existem diversas pesquisas que não dialogam entre si, com muitos dados que não se convergem. É o oposto dos Estados Unidos e Espanha, que desenvolvem o setor a partir das estatísticas facilmente obtidas e organizadas.”
A disparidade dos preços entre os cartórios também é um ponto levantado por Petrucci no podcast. A Lei Federal 6.015/73 é citada. “Esse marco regulatório para os cartórios possui tabelas de monumentos diferentes para todos os estados e Distrito Federal. Só de analisar os valores entre Alagoas e São Paulo a conversa já para.”
Na Bahia, a cada R$ 100 pagos por qualquer tipo de registro, mais de R$ 50 são destinados para o que o economista chama de penduricalhos.
“Esses penduricalhos vão para o Tribunal de Justiça, a Associação de Serventuários, a Santa Casa de Misericórdia, ou seja, há anos essas entidades, e muito do Poder Judiciário e Ministério Público, são verdadeiros parceiros do Cartório de Registro de Imóveis, dispondo de recursos que não são orçamentários da União”, conta.
Em São Paulo, essa assimetria por causa dos penduricalhos chega a 30%. “Enquanto não tivermos uma entral com todos os imóveis do país e as respectivas operações realizadas, muito dificilmente avançaremos nesse quesito de homogeneidade. O blockchain, por exemplo, é uma realidade muito distante”, afirma.
Leia também:
> Blockchain: o que é e como se aplica aos mercados imobiliário e turístico
> Escalabilidade e consequências: o Blockchain vai acabar com os cartórios?
Celso Petrucci também aborda temas centrais do setor, como os motivos que estão por trás do aumento dos custos de materiais de construção, expectativas para o financiamento e funding imobiliário, o novo Programa Casa Verde e Amarela, e como o FGTS e a caderneta de poupança impulsionou o urbanismo em São Paulo e Maceió.
“A caderneta de poupança até a semana passada rendia 1,4% ao ano, que é cerca de 70% da Selic, mas a verdade é que a grande maioria das contas da poupança está nas mãos de poucas pessoas”, pontua. Os grandes saldos das cadernetas ultrapassam R$ 1 trilhão – considerando a Poupança Verde e o Sistema Brasileiro de Poupança Interno.
“Não existe explicação lógica para uma pessoa deixa R$ 1 milhão ou R$ 50 milhões na caderneta. O Fundo de Garantia tem esse mesmo perfil. Se pegarmos 5% das contas, atingimos 80% do salto total”, diz Petrucci.
Ainda na pauta, preocupações com a concentração bancária no país, gestão do Banco Central, lotes urbanizados e pandemia. “Eu tenho a impressão de que alguns sindicatos ainda não fecharam por hombridade e teimosia. Entidades que antes operavam com 10 funcionários, hoje funcionam com 2. É muito mais pelo voluntariado da diretoria do que pela prestação de serviço”, conclui.
Para ouvir e acompanhar todas as entrevistas, basta acessar o site da ADIT BRASIL em http://adit.com.br/podcasts/
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