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Escalabilidade e consequências: o Blockchain vai acabar com os cartórios?
POR ADIT BRASIL
A simples – ou não tão simples assim – estrutura organizacional que o blockchain possui, evita, naturalmente, falhas e fraudes em sua aplicação. A maneira algorítmica com que essa tecnologia é aplicada reduz erros e lentidão, sendo, atualmente, desejo dos mercados financeiros e administrativos. Sua implantação vai transformar, inevitavelmente, o mercado imobiliário em vários âmbitos – e sua relação com os cartórios é pauta que rende vários desdobramentos: seria o fim da principal instituição de custódia de documentos do país?
Movimentações internas não informatizadas, burocracia e lentidão – os cartórios trabalham de forma isolada e centralizada há muito tempo. Da emissão de uma certidão de nascimento ou imóvel até uma troca de ações ou registro de compra e venda de imóvel, o blockchain está pronto para ressignificar essas experiências. “O desenvolvimento tecnológico tem crescido de forma exponencial e revolucionado negócios em todas as áreas de atuação e não seria diferente com os serviços extrajudiciais”, explica Jonas Jeremias, CEO da TTura e Diretor de Tecnologia do Grup RTSC.
Segundo ele, atender às novas tendências é inevitável, principalmente quando se trata dos registradores de imóveis. “Eles são os verdadeiros guardiães do direito à propriedade e este é um ponto onde a fé pública tem um valor muito forte. É o estado reconhecendo o direito de um cidadão àquela propriedade”, pontua,
As atividades estritamente operacionais devem ser substituídas por três tendências tecnológicas em especial: Inteligência Artificial (IA), Robotização (RPA) e Orquestração de Processos (BPMS).
A IA irá auxiliar na análise de dados e confecção de minutas e documentos.
A automação de processos através robotização (RPA) e sistemas baseados em BPMS (sistema de gerenciamento de processos de negócios) trarão eficiência e simplificação – organizando, automatizando e digitalizando as tarefas, inclusive com assinaturas digitais com biometria garantindo autoria, integridade e legitimidade.
O Blockchain terá seu papel como a rede confiável de registro dos dados, sejam eles gerados pelos cartórios ou por alguma organização descentralizada. “O ponto é que os cartórios não têm opção, ou se modernizam e agregam valor, ou serão substituídos pela tecnologia”, defende Jeremias.
O BLOCKCHAIN É MESMO INVIOLÁVEL?
Há quem diga que a tecnologia blockchain é impossível de ser invadida. Por exemplo, é possível ter acesso a vários detalhes de uma transação feita via blockchain, mas não há como modificar os dados contidos ali. É como uma espécie de livro validado, universal e com confiabilidade garantida para ambas as partes envolvidas. “Porém, existem vários tipos de blockchain, com conceitos semelhantes, mas com tecnologias diferentes, criptografias diferentes”, diz o CEO da TTura.
Ele cita um exemplo envolvendo o blockchain do Bitcoin, usado para validar as transações na rede.“Nesse caso temos a figura dos mineradores, cujo papel fundamental é fornecer prova de trabalho para com isso conseguirem gravar registros na rede, recebendo como recompensa, alguns bitcoins”, explica.
Por conceito, para se violar uma rede blockchain, seria necessário possuir 51% da força computacional da rede, de modo a fazer uma alteração de um registro e obter o consenso da maioria da rede.
“Hoje a rede do bitcoin é a mais segura, pois os mineradores estão localizados em pontos estratégicos do globo onde a energia elétrica é mais barata e, por isso, seria praticamente impossível um player único conseguir atingir mais da metade da força computacional e corromper a rede.”
CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS DA ASCENSÃO DO BLOCKCHAIN
Com o advento e popularização da tokenização de ativos imobiliários, o movimento natural de mercado é o surgimento de agentes aplicando golpes. “Caberá aos órgãos reguladores e empresas sérias do mercado, criarem dispositivos e mecanismos para coibir tais atuações”, explica. Assim como no mercado de Bitcoins, as pirâmides financeiras serão uma realidade.
“Ainda hoje existem muitas pessoas e empresas mal intencionadas, que se utilizam da popularidade das criptomoedas para ludibriar as pessoas, prometendo ganhos altos quando na verdade são esquemas financeiros”, diz. “Muitas vezes, inclusive, utilizando-se de figuras famosas e propagandas em redes de televisão.”
ESCALABILIDADE DO BLOCKCHAIN
Um dos principais benefícios do blockchain é a estabilização de uma camada de confiança na internet onde o registro de documentos e eventos – função hoje dos cartórios – será tão fácil quanto uma assinatura eletrônica. Um dos principais entraves para isso é a escalabilidade e performance dos protocolos de blockchain.
“A rede do Bitcoin é capaz de processar apenas 7 transações por segundo (TPS), já a rede do Ethereum, processa 20 TPS, porém, já existem projetos em estágio avançado registrando até 10.000 TPS. A título de comparação, a rede da Visanet é capaz de processar 25.000 TPS”, exemplifica Jeremias.
Com tal característica de registro imutável, o blockchain agregado à alta capacidade de TPS garantirá a segurança da informação mesmo na hipótese de uma catástrofe.
“Seria praticamente impossível a perda desses dados, e isso é realmente inovador. Vale a pena lembrar que no Haiti, em 2010, um terremoto devastou grande parte do país, deixando mais de 1,5 milhão de pessoas desabrigadas.”
O terremoto em questão acabou com cidades e destruiu 60 anos de arquivos do governo, incluindo registros de imóveis. “Hoje milhares de pessoas reconstruíram suas casas mas não possuem o registro legal da propriedade.”