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Luxo no mercado imobiliário acompanha necessidades e fases da vida do consumidor
Especialistas apontam que conceito é dinâmico e não se baseia apenas em metragem e localização
Mais do que uma metragem ampla ou localização nobre, o alto padrão imobiliário hoje é definido por atributos como bem-estar, personalização, sustentabilidade e, principalmente, exclusividade. Esses conceitos se moldam às necessidades, ao estilo de vida, às fases e às aspirações de quem compra o imóvel.
Dessa forma, Paulo Toledo, CEO da CIA Inteligência Imobiliária, explica que um imóvel compacto de frente para o mar pode ser tão luxuoso quanto uma casa ampla afastada do centro. Tudo dependerá das outras características associadas ao empreendimento e ao público-alvo do projeto.
“Obviamente que a metragem é relevante, sem dúvida nenhuma, mas eu posso morar num apartamento super qualificado, eu posso morar numa casa super bacana numa vila, com uma metragem menor e ser um imóvel de alta renda. Então, o luxo não é mais somente metragem. Eu preciso ter outros atributos diretamente ligados ao que o indivíduo procura”, detalha Toledo.

Adriana Lebrão, diretora de processos da Cidade Matarazzo, complementa que o conjunto de critérios, como localização premium, arquitetura assinada, acabamentos nobres e serviços diferenciados continuam sendo pilares. Segundo ela, o diferencial está em agregar valor cultural, artístico e histórico, como no caso do Cidade Matarazzo, um ícone paulistano restaurado e atualizado com soluções de sustentabilidade e design de ponta.
“Incluímos também o fato de ser um imóvel tombado pelos órgãos municipal e estadual de proteção do patrimônio histórico, dado ao seu valor histórico e arquitetônico. Procuramos deixar à vista elementos antigos como a preservação das fachadas, monumentos, cobertura, convivendo em harmonia com os critérios de construção modernos, de altíssima qualidade, que envolvem a arquitetura contemporânea”, conta a diretora.
O que o comprador de alto padrão busca
Para os especialistas, o comprador atual deseja bem-estar acima de tudo e o luxo se tornou sinônimo de liberdade de escolha e de realização dentro do próprio lar. Ou seja, independente da tipologia, casa ou apartamento, e do tamanho da unidade, ter espaços que facilitem o autocuidado se tornou primordial.
“O comprador busca encontrar esses três elementos, tecnologia, biofilia e bem-estar, além de outros como um prédio com uma grande varanda, que tem uma área ao ar livre, uma academia, uma área de pilates, sala de yoga e relaxamento. Então, tudo isso faz parte do imóvel exclusivo de luxo”, revela o CEO da CIA.
Adriana diz que o público de altíssimo padrão busca cada vez mais uma “experiência de morar”, o que envolve cozinhas gourmet, banheiros tipo spa, varandas com vista, arte presente em todos os detalhes e uma sensação de refúgio urbano.

“O público de altíssimo padrão está mais exigente e valoriza experiências, bem-estar e personalização, além dos aspectos básicos.”
Adriana Lebrão
ADIT
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“Além disso a preservação de extensas áreas verdes no entorno, a construção com foco na sustentabilidade e regeneração do espaço. Tudo isso permeado por cultura, pois temos a presença de artistas nacionais em todas as áreas, decoração, acabamento, eventos, etc.”, destaca.
Tendências e desafios de lançamento
Adriana ainda evidencia que as principais tendências em novos projetos são referentes à arquitetura, design e tecnologia. Todas as novidades se correlacionam também aos novos estilos de vida mais conscientes sobre saúde e meio ambiente.
“Incorporadoras estão investindo em clubes e resorts urbanos e residências multifuncionais com áreas para home office e wellness. Fora isso, a implantação de telhados verdes, painéis solares e infraestrutura para reúso de água, uso de materiais reciclados e certificações de ESG, como AQUA-HQE, LEED ou EDGE, ganham destaque”, elenca a executiva.
Paulo Toledo justifica que, dentre as tendências, a tecnologia tem sido uma das ferramentas essenciais para a criação de projetos de alto padrão. Isso porque, ela viabiliza a estruturação de diversas outras soluções, utilidades e comodidades para o dia a dia.

“A tecnologia também está diretamente ligada à segurança hoje, além de otimizar a utilização do prédio e a questão da sustentabilidade. Tudo isso traz o baixo custo do condomínio, o reaproveitamento da água de chuva, a melhor utilização dos recursos de energia, um acesso inteligente para que o prédio não tenha muitos funcionários, etc.”, desenvolve Toledo.
Por outro lado, na hora de realizar o lançamento desse tipo de empreendimento, todos os atributos e exclusividade precisam ganhar destaque na medida certa. Afinal, embora o luxo moderno se distancie muito da ideia de extravagância, a autenticidade e sofisticação são fundamentais para a valorização do projeto.
Segundo Toledo, somente uma percepção de valor muito elevada permite que o alto padrão se sustente de modo perene, mesmo com todos os custos e mudanças de interesse e estilo de vida do consumidor.

“Esse imóvel precisa ter uma percepção de valor muito grande para que o preço seja irrelevante.”
Paulo Toledo
ADIT
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Estabilidade do mercado e oscilações econômicas
Quando a economia enfrenta fases de recessão e/ou transformação, é justamente essa percepção de valor que mantém o mercado estável, ainda que menos aquecido. Ambos os especialistas concordam que projetos de imóveis de luxo são mais resilientes em tempos de crise.
Com menor dependência de crédito e um perfil mais patrimonialista, o comprador de alta renda tende a manter seus investimentos mesmo em cenários de incerteza. Portanto, apesar de sentir o impacto, por exemplo, na construção civil e custo de insumos, a base financeira se mantém sólida.

“Durante oscilações, há uma retração no volume de transações, mas não necessariamente uma queda nos preços. Pode ocorrer uma migração de investidores para o segmento de luxo, por ser mais seguro e menos volátil. Em tempos de juros altos, o luxo continua atrativo pela exclusividade e solidez, ao contrário de imóveis voltados à renda”, expõe Lebrão.
“O que a gente tem observado nas mais diversas cidades do país é que o mercado de classe alta continua vendendo, exatamente porque esse cliente tem recurso e não está disposto a esperar para poder morar bem. Então, o empreendedor de alto padrão é mais sensível, mas tem menos dor nesse aspecto”, complementa Toledo.
- Por Maíra Sobral – Coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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