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Gastronomia, arquitetura e destinos autênticos refletem a sofisticação e tendências da hotelaria de experiência
Mais que luxo, conexão e emoção são palavras de ordem para construção de projetos desse segmento
A hotelaria de experiência tem se consolidado como um dos movimentos mais autênticos do setor turístico. Mais do que hospedagem confortável e serviços de qualidade, os empreendimentos que abraçam essa tendência apostam em vivências que criam conexões e memórias excepcionais que dificilmente serão encontradas em outros locais.
A arquitetura e cultura local assumem um papel central nesse modelo, que vem conquistando viajantes cada vez mais exigentes. E se antes a gastronomia era vista como serviço de apoio, hoje ela é protagonista da hospitalidade sofisticada.
São esses aspectos que fazem a hotelaria de experiência se diferenciar da hotelaria tradicional. Para Armando Ramirez, diretor de desenvolvimento de negócios Wyndham Hotels & Resort, enquanto hotéis tradicionais são centrados em oferecer hospedagem confortável e funcional, os de experiência criam histórias e emoções para o hóspede.
“Hotelaria de experiência tem que ter uma proposta de valor, proporcionar experiências únicas e conexões emocionais que vão além do quarto. Tem que ter um diferencial, design temático, integração com a cultura local, atividades exclusivas, hospitalidade personalizada. Como exemplo, um hotel-boutique que oferece imersão na culinária regional, tours personalizados ou rituais de bem, etc.”, elucida Ramirez.
Seguindo esse conceito, Alejandro Moreno, vice-presidente de turismo da ADIT Brasil e CEO da Trul Hotéis, complementa que, na prática, a hotelaria tradicional cumpre a função essencial de oferecer um espaço confortável, com uma boa cama, chuveiro e café da manhã de qualidade.
Enquanto isso, para ele, a hotelaria de experiência vai além, buscando compreender os desejos mais profundos do hóspede, seja relacionado à gastronomia, ao bem-estar, à cultura ou à aventura.
“Cada estadia passa a ter um objetivo, um motivo que precisa ser entendido e trabalhado pelo empreendimento. Quando esse propósito não é atingido, todos os demais elementos perdem valor. Por isso, é fundamental alinhar expectativas e entregar experiências bem estruturadas. A experiência, quando bem organizada, transforma-se em um produto extraordinário”, defende.
A cultura como essência da hospitalidade
Cultura e arquitetura caminham lado a lado na construção de experiências autênticas na hotelaria. Quando o design de um empreendimento dialoga com o território onde está inserido, ele deixa de ser apenas um espaço físico para se transformar em expressão da identidade local.
Para Florencia Amaya, Sales & Marketing Manager da Casa de Uco, localizada no Vale de Uco, na Argentina, a arquitetura não é apenas uma ferramenta estética, mas sim um canal cultural capaz de transmitir valores, resgatar memórias e oferecer ao visitante uma vivência que ultrapassa o conforto e se torna um encontro profundo com o lugar.
“Buscamos que cada experiência transmita a identidade do Vale de Uco. A cultura local se reflete na arquitetura inspirada na paisagem, na gastronomia baseada em ingredientes da estação, provenientes de nossa horta orgânica e de produtores da região, e em atividades vinculadas ao vinho como eixo central”, destaca.

“Também trabalhamos com artesãos e guias locais, para que nossos hóspedes vivam um contato autêntico com as tradições e a comunidade local.”
Florencia Amaya
Para Moreno, o Brasil também vive um momento especial nesse quesito. Segundo ele, diferente de outros mercados, no cenário nacional observamos um crescimento expressivo de empreendimentos que unem luxo, experiências personalizadas e forte conexão com a cultura local, consolidando o país como um destino cada vez mais atrativo para a hotelaria sofisticada no mundo inteiro.
“De norte a sul, surgem projetos de hotéis boutique e pousadas de luxo que têm encantado não apenas o público nacional, mas também o internacional. São iniciativas que mostram a disposição do brasileiro em investir em sofisticação e autenticidade”, pontua o executivo.
Amaya reforça que a autenticidade, especialmente com a atenção individualizada, gera uma conexão afetiva que diferencia a propriedade, impulsiona a recomendação e motiva os hóspedes a retornarem para continuar descobrindo e desfrutando do destino.
“Entendemos que a fidelidade se constrói superando expectativas, por isso priorizamos cada detalhe: desde uma recepção com vinhos de nossa vinícola e passeios personalizados pelos vinhedos, até atividades desenhadas de acordo com os interesses de cada hóspede, como cavalgadas, aulas de culinária ou degustações privadas”, diz.
Gastronomia como atração principal
Os executivos destacam que a gastronomia se tornou um dos pilares da hospitalidade sofisticada. Para eles, nesse momento, ela não é apenas um complemento, mas um elemento central da experiência, capaz de definir a escolha por determinado destino e hospedagem na hora do planejamento do viajante.
Ramirez aponta que nos destinos mais sofisticados, a gastronomia deixou de ser apenas um serviço de apoio, alimentar o hóspede, para se tornar uma atração de fato. Esse é um dos pontos altos da diferença da hotelaria tradicional. Ou seja, ainda que o destino por si só ofereça experiências únicas, os projetos de hospitalidade que desejam agregar ao roteiro, podem incluir um menu marcante como estímulo a mais.
“Hotéis e resorts de luxo utilizam a gastronomia para se destacar no mercado, restaurante com marcas e assinados por chef renomados e premiados viram um atrativo que encanta o hóspede e público externo”, conta Ramirez.
Para os viajantes, a mesa é um espaço de descoberta, entretenimento e acolhimento, onde cada detalhe se torna parte da narrativa. É essa busca por autenticidade e exclusividade que transforma a gastronomia em um diferencial competitivo na hotelaria de experiência.
“O público que busca esse tipo de vivência é altamente exigente, disposto a investir em algo singular e marcante. Isso exige constante inovação, clareza na comunicação e autenticidade para não gerar falsas expectativas. Mesmo propostas mais simples devem ser muito bem apresentadas, pois cada detalhe conta”, enfatiza Moreno.

“A gastronomia, em sua essência, continuará sendo um dos grandes atrativos que acompanham a hospitalidade, sempre desafiando os empreendimentos a surpreenderem seus hóspedes com novidades e experiências exclusivas.”
Alejandro Moreno
Seguindo essa mesma ideia, Amaya conta que a cozinha se transforma em um percurso sensorial que acompanha a estadia do hóspede do café da manhã ao jantar. Na Casa Uco, por exemplo, a proposta gastronômica é pensada para se integrar ao vinho como eixo da experiência, oferecendo harmonizações com rótulos da própria vinícola.
“Mais do que um serviço, entendemos a gastronomia como uma ponte cultural. Por meio dela, nossos visitantes conhecem o lugar, seus ingredientes e as pessoas que os produzem, fortalecendo o vínculo com o território. Essa visão permite que a hospitalidade na Casa de Uco seja uma experiência integral, em que cada momento, da mesa à paisagem, conta uma parte da história do Vale de Uco”, explica Amaya.
O futuro do turismo de experiência
Quando se fala em um setor em plena expansão e consolidação é natural que muitas transformações ainda mudem a dinâmica de escolha e a operação dos empreendimentos. E a tecnologia deve cumprir um papel muito importante nesse processo — ainda que ela não seja o foco dos interesses e atrações para os hóspedes.
“O futuro do turismo de experiência será moldado por um viajante mais exigente, digitalizado e em busca de significado. Não basta mais viajar e consumir, os clientes querem pertencer, aprender, sentir e compartilhar”, menciona o executivo da Wyndham.

“Hoje a Inteligência artificial, big data e CRM avançado permitirão antecipar desejos e criar roteiros únicos com excelentes experiências para o turista.”
Armando Ramirez
Dessa forma, Moreno defende também que o desafio das empresas está em acompanhar tendências, identificar novas oportunidades e criar vivências que realmente façam sentido, entregando o que o cliente valoriza e comunicando isso com clareza.
“É importante entender que sofisticação não significa apenas luxo, mas sim a entrega de algo único, autêntico e memorável. O consumidor atual é criterioso: sabe que pagar mais não garante, necessariamente, uma boa experiência”, completa.
- Por Maíra Sobral – coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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