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Como a arquitetura aplica o papel de sustentabilidade e inclusão social em projetos de retrofit
Alinhamento entre técnica e percepção social podem ser alternativa mais eficiente para construção do futuro sustentável
Com a demanda por práticas mais inclusivas e o crescimento da conscientização ambiental, os projetos de retrofit estão se consolidando como um caminho eficiente para revitalizar centros urbanos e gerar impacto positivo em comunidades locais.
Ao repaginar um prédio antigo para uma nova ou mais moderna finalidade, como centros culturais, espaços comerciais e/ou habitacionais, a arquitetura pode ser usada não só na conservação do patrimônio físico, mas também para promover a conexão social, criando pontos de ativação e interação para a comunidade.
Pedro Ichimaru, sócio da Somauma, desenvolvedora do retrofit do Edifício Virgínia, na cidade de São Paulo, explica como as “Ativações Criativas”, estratégia para incluir a comunidade antes mesmo do início das obras, são usadas para ampliar a circulação de pessoas e aumentar a oferta de atrativos na região.
“A estratégia inclui a execução de uma série de atividades culturais e artísticas dentro dos próprios edifícios no período que antecede o início das obras, tendo dois principais objetivos: primeiro, acelerar o impacto positivo de nossa intervenção, e em segundo lugar, utilizar o próprio público frequentador como atores no processo de discussão e amadurecimento do projeto de retrofit definitivo”, afirma Ichimaru.
A iniciativa de envolver a participação social e consultar as necessidades da comunidade em diferentes etapas da execução do projeto é um dos pontos cruciais para a caracterização do retrofit, já que a proposta, sobretudo, visa que o desenvolvimento econômico do espaço fortaleça principalmente o âmbito social.
“Temos como diretriz a contribuição no entendimento, participação e estímulo de melhoria do entorno tanto nos aspectos sociais quanto ambientais”, comenta Bruno Scacchetti, CEO da Metaforma Inc., responsável pela retrofitagem do Edifício Basilio 177, também em na capital paulista.
Práticas e tecnologias sustentáveis
Equilibrando a percepção da comunidade com os princípios técnicos da arquitetura, Scacchetti também reforça o uso de estruturas e acabamentos sustentáveis, além de equipamentos modernos para maior eficiência da obra e do empreendimento.
Ichimaru explica que tecnicamente o retrofit pode ser visto como uma obra convencional, no entanto, o uso de materiais alternativos que priorizem as cadeias dos reciclados e renováveis ao invés dos de extração, atinge as mesmas especificações de desempenho estrutural.
“Temos um conjunto importante de soluções incorporadas às obras, podemos destacar o isolamento acústico de paredes com lã de PET, pias e bancadas de granilite de demolição, estruturas metálicas produzidas com aço de usinas de reciclagem e estruturas de madeira engenheirada como o CLT”, descreve o sócio da Somauma.
O aperfeiçoamento de tecnologias de restauração e manutenção de revestimentos, sistemas de eficiência de consumo de água e de energia também são citados como essenciais pelos especialistas.
Qualidade de vida e socialização
A valorização do bem-estar e o desenvolvimento profissional dos colaboradores, com políticas que elevam o padrão de qualidade no ambiente de trabalho, também são incluídos nas estratégias de inclusão e sustentabilidade.
“De caráter interno, temos políticas e práticas dentro dos canteiros de obra, onde são trabalhados aspectos da valorização da vida de todas as pessoas envolvidas, a partir da elevação do padrão de qualidade do suporte aos trabalhadores, que vai desde uniformes e toalhas disponibilizados e higienizados pela construtora até programas de formação e apoio ao desenvolvimento profissional e empresarial individualizado”, salienta Ichimaru.
Para Scacchetti, a geração de empregos — seja provocada pelo período de obra, seja pela revitalização do entorno do empreendimento, promove o resgate, a reabilitação, respeito e senso de pertencimento das populações envolvidas.
“Aa ações que beneficiam as comunidades locais envolvem a retomada das atividades, em casos de ativos fechados e ociosos, revisão da vocação, readequação física e estética, preservação de características relacionadas à história do edifício e do bairro (entorno e/ou comunidade local), além da preservação do patrimônio histórico”, pontua.
Esses esforços revelam o compromisso com a sustentabilidade não só ambiental, mas com a qualidade de vida proporcionada para a população. Ichimaru enfatiza ainda a necessidade de mudança no modelo de desenvolvimento da ocupação humana no mundo e o papel do retrofit nesse processo.
“Qualquer início de retrofit, sinalizando a iminente reabertura de um edifício que esteja fechado, já impacta diretamente a comunidade e seu entorno, na melhora da percepção da população sobre a região. Esse novo modelo de futuro é o único caminho para que possamos efetivamente fortalecer um cenário de geração de oportunidades de trabalho e de melhora da qualidade de vida sistemática”, acredita o executivo.
“Na realidade, no mundo contemporâneo não há mais espaço para projetos e negócios que não se baseiem fortemente em práticas socioambientais em sua gênese, sob a pena não só de agravamento das crises em curso, mas também de fracasso empresarial, visto que cada vez mais o mercado financiador e consumidor passa a entender e alocar valor nestes aspectos fundamentais”, defende Ichimaru.
Os executivos também debateram estas e outras ideias sobre os impactos dos Retrofit nas comunidades em um episódio do ADIT Talks, podcast da ADIT Brasil. Confira pelo YouTube ou Spotify.
- Por Maíra Sobral – Coordenadora de conteúdo na ADIT Brasil
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