Perfil
Perfil 110 – Oriana Rey

Com a carreira desenvolvida na área de sustentabilidade e responsabilidade social, Oriana Rey é sócia-diretora na Visões da Terra. De origem japonesa, Oriana admira não apenas a sua ancestralidade, mas também valoriza as características e costumes tradicionais do Brasil, sua terra natal.
Conheça mais sobre essas e outras características de Oriana Rey na entrevista ping-pong a seguir:
1. Qual sua formação?
Sou advogada formada pelo Mackenzie, durante a faculdade sempre atuei com direito ambiental. Fiz duas pós-graduações em Sustentabilidade na FGV e Master em Marketing na ESPM.
Sempre trabalhei em sustentabilidade no mundo corporativo, em empresas como Banco ABN AMRO Real, Natura Cosméticos e Cipasa Urbanismo. Em 2019 resolvi empreender com uma amiga na Consultoria em Sustentabilidade Visões da Terra e desde então sou sócia-diretora.
2. Tem filhos?
Sim, tenho um menino de 9 anos, minha paixão e a maior aventura da minha vida.
3. Quais são seus interesses e hobbies?
Defino os meus interesses e hobbies no que estou precisando no momento, vejo isso como algo orgânico. Tem momento que preciso do contato com a natureza, de exercício, outro que sinto falta de amigos e família. Também ando valorizando o momento que estou mais em silêncio e sozinha.
4. Qual é o seu prato, restaurante ou culinária favorita?
Eu amo alcachofra! Mas um camarão delicioso também é arrebatador para mim. Desde 2022 tenho ido muito a trabalho na Barrinha de Baixo-CE e os camarões de lá são divinos, adoro o restaurante do Senhor Belo, difícil achar um camarão tão fresco e saboroso como lá. O restaurante é bem simples, paredes de pau a pique, pé na areia e lutando para sobreviver com a movimentação das dunas. Quando você pergunta para o Sr Belo o cardápio ele logo pega uma bandeja gasta de alumínio com todos os frutos do mar, recém pescados, para você escolher. Enquanto comemos, Sr Belo fica embalado na rede nos atualizando sobre as histórias da comunidade e curiosidades da sua vida de pescador. Um lugar de afeto, único e comida deliciosa.
5. Um destino, cidade ou país que é indispensável para conhecer? Por quê?
Japão. Além de ser um local da minha ancestralidade, é um país único. Um país que preserva a tradição centenária e a modernidade em Tóquio. Da delicadeza à ousadia. A cultura japonesa é muito específica em relação a outros países e repleta de gentileza e respeito. Além disso, poder estar do outro lado do Planeta Terra é algo fascinante.
6. E no Brasil?
Já viajei demais pelo Brasil, conheço 23 estados e a maioria dos Parques Nacionais, seja a turismo ou a trabalho. Cada cantinho desse país, que ainda tenho muito a conhecer, me fascina num lugar. Mas em geral gosto de locais inexplorados. O Sertão em especial me nutre num lugar muito único, recomendo a todos irem para a Serra da Capivara (PI) e desfrutar da paisagem do Sertão que apesar da aridez tem tanta riqueza e inspiração.
7. Quais são os livros, filmes, músicas ou recursos que te inspiram?
Meu escritor preferido é o japonês Haruki Murakami, em especial a trilogia IQ84. Gosto da forma que entrelaça o mundo real e imaginário com elementos da cultura japonesa.
Além disso, eu aprendo muito com as lideranças das comunidades que atuamos na Visões da Terra. Sempre que eu tenho oportunidade gosto muito de estar em campo com minha equipe e a cada conversa com uma liderança em diversos locais do Brasil a aprendizagem é enorme, são conversas e experiências de vida tão únicas que me nutrem tanto pessoalmente como profissionalmente.
8. Rede social que mais interage?
Instagram e Linkedin. Mas confesso que adoro ficar um tempo fora das redes sociais. Não tenho necessidade de postar tudo, mas lógico que hoje em dia é um ambiente que temos que estar presentes, somente sinto que as pessoas ficaram muito reféns das redes sociais e perderem a conexão com o presente.
9. Como você equilibra sua vida profissional e pessoal?
Esse é um grande desafio. Outro dia li uma matéria falando de uma série chamada Ruptura, criada por Dan Erickson, que a partir de um implante cria duas personalidades no mesmo cérebro uma para o trabalho e outra para a vida pessoal, fiquei curiosa, ainda não assisti, mas acho interessante a reflexão. A questão é que ao você ter esse implante que separa a vida pessoal e profissional, você está renunciando pelo menos 50% do tempo da sua vida. A provocação é válida pois mesmo que não seja o implante, acho importante notarmos que somos apenas um ser. Que o profissional e o pessoal nos nutrem e nos fazem crescer em diferentes aspectos e que o um aprendizado profissional também ajuda no pessoal. Se você fizer o que ama, como eu tenho o privilégio de sempre ter feito, a separação fica difícil, pois minhas conquistas profissionais também são realizações pessoais.
10. Qual foi o seu maior desafio?
No momento em que iríamos implementar um projeto de gestão de resíduos numa comunidade, a Prefeitura começou a fazer um polêmico projeto de colocar intertravado nas ruas antes de areia. O nosso projeto já estava a todo vapor, mas mesmo o assunto sendo diferente, tinha um impacto na comunidade e isso nos afetou. Um grupo de moradores, cuja a maioria não eram nativos, afirmaram que agora a prioridade não era resíduos e que ninguém da comunidade embarcaria no meu projeto de resíduos neste momento e que, inclusive, eu tinha me posicionar contra esse projeto da Prefeitura também. Eles quase me desestimularam pois eu também não tinha a legitimidade e conhecimento para me posicionar contra um órgão público, mas um domingo à tarde meu telefone tocou e era a Diretora da Escola querendo reforçar que o nosso projeto era muito importante, que a Escola estava de braços abertos para nossas reuniões mas que a temática do intertravado não deveria ser abordada. Eu arrisquei, optei por me manter neutra, esclareci que nas nossas reuniões o foco deveria ser resíduos e demais temas eles poderiam organizar outro fórum. Para a surpresa dos que quiserem nos desestimular o nosso projeto foi um sucesso absoluto na comunidade com 97% de adesão, depois descobri que a maioria da comunidade queria o intertravado, as ruas de areia são charmosas para os turistas, mas para quem mora lá andar em areia fofa num sol escaldante cansa demais.
11. Qual foi sua maior realização até agora?
Sou grata ao mundo corporativo por tudo o que aprendi, mas poder estar empreendendo há 6 anos na Visões da Terra é uma grande realização. Conciliando a maternidade e ao mesmo tempo liderando uma consultoria, que é uma alfaiataria em soluções de projetos socioambientais e relacionamento territorial, e com clientes altissimamente satisfeitos. Atuamos em 14 estados com foco no Nordeste e com uma equipe incrível e competente que me acompanha desde 2019, é um feito que confesso ter muito orgulho.
12. Qual é o seu maior objetivo profissional?
Ocupar com seriedade e consistência os espaços que me são abertos. Por trabalhar com o tema socioambiental lidamos os com sonhos das pessoas, se nós falharmos não será apenas o cliente que se decepcionará, mas a comunidade que estamos nos relacionamento.
Se o projeto que eu estiver liderando decepcionar a comunidade, provavelmente eles ficarão receosos para novos projetos, portanto, ao lidarmos com sonhos e esperanças sei que minha responsabilidade ainda é maior, portanto, meu objetivo é continuar dando meu melhor e buscar a melhor performance da minha equipe para a realização de projetos socioambientais com consistência e gentileza.
13. Como você promove o desenvolvimento profissional e a liderança entre os membros de sua equipe?
Tenho a sorte e mérito de ter uma equipe excelente que me acompanha desde 2019, quando comecei a empreender na Visões da Terra. Cada pessoa mora num canto do Brasil, passamos a pandemia, demoramos meses para nos conhecermos pessoalmente, e hoje nos conhecemos pelo tom de voz e olhar as telas. Apesar de ficarmos a maior parte do tempo distantes fisicamente, quando nos encontramos para um projeto em algum lugar do Brasil viramos uma grande família, em geral alugamos uma casa para podermos cozinhar juntos e nos sentamos descalças na sala para falar do projeto. Para todo o projeto que atuamos no Brasil tenho um técnico local mas conto com três coordenadores que sempre estão comigo.
Sei que tenho a liderança das estratégias principais, mas após tantos anos com minha equipe fico orgulhosa de ver como o time cresceu, inclusive apontando soluções que as vezes eu não tinha visto. Todos trabalhamos com um propósito de desenvolver projetos socioambientais no Brasil de forma consistente e gentil com a comunidade, meu time sabe que não abro mão disso, qualquer projeto que afronte esses valores sabem que estamos fora. Felizmente isso nunca ocorreu, mas é um elo importante de confiança que construímos com base nos nossos valores comuns. O time estar alinhado com o mesmo propósito e brilho no olhar tem como consequência a alta performance.
14. Quais são os seus principais valores e princípios?
Como líder da Visões da Terra tenho a oportunidade de criar uma consultoria exatamente com os meus princípios e valores e eles são aplicados em todos os projetos que atuamos.
Empatia. Somente assim é possível ouvir o outro.
Respeito. A comunidade está no local primeiro e há muitos anos.
Transparência. Base para a construção de uma relação de confiança.
Gentileza. Atos genuínos convidam o outro para uma relação harmônica.
Coerência. Falas alinhadas aos atos.
15. Personalidade(s) que admira no mundo dos negócios?
A arqueóloga Niède Guidon, responsável pela criação do Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí, é uma grande inspiração para mim.
Fui a primeira vez para a Serra da Capivara em 2004, na época da faculdade, e tive a oportunidade de voltar para lá ano passado com meu filho e minha mãe. Ver aquele local 20 anos depois demonstra como Niède Guidon é realmente visionária, determinada e com uma visão de negócios ímpar.
Para proteger as pinturas rupestres, que era o seu maior objetivo, ela logo notou e foi orientada por especialistas que precisava gerar outras fontes de renda para a comunidade local para além de atividades predatórias no parque.
A partir daí ela, no meio do Sertão Nordestino, enfrentou diversas resistências e mudou a atividade econômica da região, fomentando o turismo, sendo que os primeiros guias ela mesma que treinava pessoalmente, criou a Cerâmica Serra da Capivara hoje vendida internacionalmente e facilmente encontrada no site da Tok&Stok e incentivou as artes que hoje os alunos de 20 anos atrás fazem alegorias fantásticas para a Ópera da Serra da Capivara que ocorre anualmente.
16. Deixe aqui a sua mensagem para o mundo. Pode ser um conselho, uma frase de efeito, algo que você mesmo criou e/ou adotou como lema de vida.
“think globally, act locally”. A frase é do biólogo e ambientalista escocês Patrick Geddes (1854-1932), considerado um pioneiro do movimento pela preservação do meio ambiente, em especial no ambiente urbano.
Os desafios de sustentabilidade do planeta são globais e complexos. Hoje me nutro e me empenho em pequenos desafios locais que consigo endereçar, que eles possam ser inspiração para outros territórios. Minha maior satisfação hoje está nas conquistas de campo que conseguimos. Quando começo a pensar em como solucionar os desafios globais me frustro, então arregaço a manga e vou para o campo utilizando minha experiência acumulada e buscando ocupar com dignidade o papel de Agente de Mudança que me foi dado.